terça-feira

Outro testamento - Vitorino Nemésio -

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Outro Testamento (Vitorino Nemésio) Quando eu morrer deitem-me nu à cova

Como uma libra ou uma raiz, Dêem a minha roupa a uma mulher nova Para o amante que a não quis. Façam coisas bonitas por minha alma:Espalhem moedas, rosas, figos. Dando-me terra dura e calma,Cortem as unhas aos meus amigos. Quando eu morrer mandem embora os lírios: Vou nu, não quero que me vejam Assim puro e conciso entre círios vergados.As rosas sim; estão acostumadas A bem cair no que desejam:Sejam as rosas toleradas. Mas não me levem os cravos ásperos e quentes
Que minha Mulher me trouxe:Ficam para o seu cabelo de viúva,
Ali, em vez da minha mão;Ali, naquela cara doce...
Ficam para irritar a turbaE eu existir, para analfabetos, nessa correcta irritação. Quando eu morrer e for chegando ao cemitério, Acima da rampa, Mandem um coveiro sérioVerificar, campa por campa(Mas é batendo devagarinho
Só três pancadas em cada tampa, E um só coveiro seguro chega),
Se os mortos têm licor de ausência (Como nas pipas de uma adega
Se bate o tampo, a ver o vinho):Se os mortos têm licor de ausência
Para bebermos de cova a cova, Naturalmente, como quem prova
Da lavra da própria paciência. Quando eu morrer...Eu morro lá!
Faço-me morto aqui, nu nas minhas palavras, Pois quando me comovo até o osso é sonoro.
Minha casa de sons com o morador na lua, Esqueleto que deixo em linhas trabalhado: Minha morte civil será uma cena de rua; Palavras, terras onde moro,Nunca vos deixarei.
Mas quando eu morrer, só por geometria,
Largando a vertical, ferida do ar,
Façam, à portuguesa, uma alegria para todos;
Distraiam as mulheres, que poderiam chorar;
Dêem vinho, beijos, flores, figos a rodos, E levem-me - só horizonte - para o mar.

Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva (1901 - 1978)

  • Dedicada a todos os que amam a vida...

Quando a arte se mistura com a arte temos muita Arte

PARA DESENJOAR COMO DIZ O NOSSO AMIGO TREINADOR DE FALCÕES

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É ponto adquirido que este blog é uma manta de retalhos (propositadamente), como há dias um amigo nos referiu numa mini-conferência, entre bolachinhas e martinis. Fazemo-lo por razões egoísticas, já que a imaginação é essa biografia das relações da vida em sociedade que acada momente nos pode surpreender. Mas que estrutura uma sociedade pode ter (aqui) quando ela é composta só por mulheres?

Poderá haver transformação ou mudança numa sociedade que não diversifica, que não se renova, que não se correlaciona na ordem social? Dentro dela ficamos sem saber qual o seu sentido estratégico... Só sabemos que circulam, podem não progredir. Afinal, que variedade de mulheres predominam na nossa sociedade? E de que forma são seleccionadas, formadas, dirigidas e reprimidas. São (também) estas questões que nos desafiam a imaginação sociológica, entendendo por tal a capacidade de passar duma perspectiva a outra - da psicologia, à dieta e aos cuidados de pele e de saúde em geral, da política externa aos preços do petróleo, da Sida à análise do OGE, da teologia às questões geopolíticas, e destas ao ballet contemporâneo que a Fundação C. Gulbenkian parece não mais apoiar.

Olho para estas bonitas mulheres e penso na necessidade de conhecer o sentido para que marcham os ponteiros do relógio, no fundo, perceber em que medida é que os aspectos mais íntimos das pessoas podem influir no tal sentido geral e histórico do homem em sociedade. Muito embora estas imagens - mais do que uma racionalização para o espírito - são bem capazes de funcionar mais como uma perturbação pessoal.

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Em suma: ter esta consciência social é procurar a tal configuração que manda no sistema, é ser capaz de identificar as ligações entre seres da mesma natureza em ambientes de escala maior. Analisar estas mulheres é analisar o poder. E fazer ambas as coisas é possuir a tal imaginação sociológica. Para desenjoar...

Fim - de Mário Sá Carneiro -

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Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)
Este poema pode ser dedicado ao Jumento, ainda que lhe desejemos uma vida longa...

Guerra analítica, sintética e paralítica: a guerra (global) das informações

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Nota prévia:
Desde que Miguel Sousa Tavares veio atacar - artificialmente e de forma generalizada - a blogosfera tomando a andorinha pela Primavera - e depois o blog que supostamente o acusou de plágio reconverteu-se ao elogio bacoco (alguns pensam tratar-se duma jogada de marketing préviamente concertada, pobre, pobrezinha..., até porque o autor não precisa) - os "Cinco Lados" nos EUA montam um dispositivo anti-guerra para proteger a América de G.W. Bush das manipulações informativas do Iraque para penalizar a República Imperial... E agora nem os blogues escapam.... Eles que se cuidem na América, pois por Portugal já começaram a ser fulminados nas páginas do Expresso. Chama-se a isto guerra das (des)informações, ou seja, o Pentágono descobriu (a pólvora), doravante a guerra será feita através da antiguerra, e esta baseia-se na produção de informação e contra-informação que ora pretende combater as heresias que sopram do Iraque. Por cá algumas dessas guerrinhas de alecrim e manjerona já começaram a disparar contra alguma blogosfera anónima (sem escrúpulos, injuriosa e sem qualidade, e aqui, e só aqui, até concordamos), mas o que na realidade sucede, creio, é que há mais guerras imaginadas do que travadas. Se bem que as guerras do passado afectem as nossas vidas actuais e ainda façam derramar muito sangue pelas nossas memórias. Afinal, somos uma continuidade - na paz e na guerra - entre as nações... Mas quando se generaliza caimos do "cavalo" e perdemos toda a razão. Ainda há dias demonstrámos - sustentadamente - como o Miguel se defendeu mal, e o que nos faz falta, creio, é que as emoções não colonizem as racionalizações, sob pena de andarmos todos à estalada por causa dum blog anónimo (ou dum camelot) - que, por extensão, também nos atrofia a capacidade de entendimento do relacionamento entre a guerra e uma sociedade em rápida mudança. Se bem que uma revolução na forma de fazer a guerra também exige - de todos nós - uma revolução na feitura da paz. Parece que a história não muda, porque imutável é a condição humana. Logo, si vis pacem, para bellum...

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[in Sol]

Iraque Pentágono declara guerra noticiosa Os Estados Unidos vão lançar um serviço noticioso para contra-atacar e desmentir informações «incorrectas» sobre a guerra no Iraque. A nova unidade do Pentágono responderá até a blogues "O anúncio segue-se a declarações de Dick Cheney e Donald Rumsfeld, que consideram que os Estados Unidos estão a perder a guerra da propaganda. A nova unidade do Pentágono vai monitorizar blogues, sites, rádios e canais de televisão para ripostar e responder à divulgação de notícias que a Casa Branca considera «incorrectas» sobre a guerra no Iraque.

O objectivo é contra-atacar com informação durante qualquer altura do dia, de forma imediata. Para tal, jornalistas, analistas e especialistas de comunicação vão integrar a equipa.
A iniciativa surge uma semana antes das eleições para o congresso norte-americano, mas Eric Ruff, assessor de imprensa do Pentágono, declarou á BBC não haver qualquer estratégia eleitoral por trás do projecto.
Já no contrário, Washington acredita. Dick Cheney, vice-presidente dos Estados Unidos, vê uma relação entre a revolta armada e mediática no Iraque e as eleições da próxima semana. E alerta para uma ofensiva na Internet -: «Acredito que os insurgentes estão sensiblizados para o facto de termos eleições à porta e de poderem aceder a websites como qualquer pessoa. Eles estão on-line o tempo todo e são utilizadores muito sofisticados», declarou Cheney à Fox, no passado domingo.
Também recentemente, Donald Rumsfeld mostrou-se preocupado com o sucesso dos rebeldes em «manipular os media». «É isso que me tira o sono à noite», afirmou Rumsfeld. No terreno, os norte-americanos perderam em Outubro mais de uma centena de militares. Este mês é já o mais sangrento desde o início da invasão do Iraque."
PS:
Enfim, se pensavam que o MST - que é um jornalista, um repórter e um homem estruturado que aprecio, tem garra e não abana a cauda (mas, claro, não é deus e quando fala daquilo que desconhece sai babuseira, naturalmente!!!) - estava sózinho, agora tem a companhia dos seus "amigos" americanos: - G.W. Bush, Dick e Rumsfel. Nem de propósito... Esperemos que não faça mais um artigo a chamadar "cibercobardes" aos norte-americanos... Para isso já existe o Noam Chmosky. Com quem, aliás, o MST já debateu ( e bem) há uns tempos atrás...

Um Homem - um grande português -

[...] "O ponto difícil é o de saber por que motivo o artista influi sobre o mundo. Há duas hipóteses: o mundo é uma invenção do artista e na medida em que ele se transforma o mundo se transforma; outra, [...] a de que dentro do artista há algum núcleo fundamental que pode reunir o artista e a vida e fazer que desapareçam as antinomias."
in Agostinho da Silva, Herta, Teresinha, Joan

segunda-feira

A patologia do terrorismo: algumas derivas

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Sem ser especialista em terrorismo, nem em coisa nenhuma, trago aqui à colação um tema grato ao Globalidades - um espaço de reflexão composto por gente madura que mantém o seu "capital mal-parado", a avaliar pela estagnação em que o mesmo se mantém.., estranhamente, confesso. Provavelmente, emigraram todos para o Brasil antecipando as férias do Natal.. Até porque as visitas (ao blog) não interessam para o fim e vista: reflectir com alguma qualidade e densidade é o essencial.
Mas no ponto do terrorismo (T.), que é o que aqui relevamos, não há factor algum que possa justificar a impunidade do T., como não há crença nas virtualidades do diálogo com gente que comete esse tipo de crimes, porque a via negocial, ao invés do que diz o sr. dr. Mário Soares (coitado, nesta matéria nem deve ser ouvido, quanto mais meditado!!!) não impede o crime, antes o precipita, legitima e multiplica pela natureza das coisas.
Ora, como não há hesitação possível entre a vida em Liberdade de um lado, e a vida em barbárie por outro, investimos aqui 15 min. da nossa vida a pensar algumas derivas que julgamos estar na base deste fenómeno que tem desafiado o saber instalado, as teorias sociais e o ambiente estratégico das informações em geral onde estas fracturas ocorrem.
E como não há uma teoria científica precisa que preveja tudo com elevada precisão e equilíbrio, resta-nos este exercício de reconhecer que o terrorismo político e a violência política em geral - remete os teóricos para uma compreensão do fenómeno que o encaixa na própria tradição da arte de governar que apela à sabedoria política hoje globalizada, porque globalizada está a fronteira dessa violência, dessa ameaça e desse perigo às sociedades anglo-saxónicas.
Contudo, recordamos aqui um dado paradoxal pela pena de Alexis de Tocqueville, como ele demonstrou no seu livro sobre a Revolução Francesa. É que os levantamentos começam frequentemente quando as coisas estão a melhorar, quando o ciclo política se estabiliza, isto não dispensa a pensar-se que, de facto, o T. não deixa de ser a arma do fraco e do cobarde.
Mas o problema agrava-se dada a imprevisibilidade do fenómeno e dos seus efeitos, da sua escala em toda a sociedade. É nessa tentativa de racionalização que aqui laboramos. Que grande teoria serve para explicar o T.? Tanto mais em contexto de globalização competitiva - em que mercados, capitais, tecnologias e mobilidades múltiplas concorrem para desmaterializar os velhos registos que outrora faziam destes factores elementos estratégicos mais visíveis ou previsíveis e cuja escala da ameaça também era menor.
Vejamos muito sumáriamente alguns desses influxos que conduzem, directa ou indirectamente, a conflitos civis ou terroristas de tipo moderno - mas que em ambos os casos privam as populações dos seus padrões de vida, da sua normalidade. Afinal, o homem é um animal de hábitos, de rotinas e uma vez quebradas instala-se a crise.
Veremos que frustrações, que ódios acumulados dão expressão a essa violência contra os Estados e as respectivas sociedades, porque o objectivo do T. é instabilizar psicológicamente o maior número de pessoas, controlar e teleguiar essas sociedades pela instilação do medo e da agressão entre as pessoas até que reine o caos e anarquia. Pois é nesse tecido social desordenado que o T. prolifera. É aí que o ódio melhor se alastra e os sentimentos dos inimigos da liberdade melhor penetram e ideológicamente se afirmam no tecido conjuntivo da sociedade. É, pois, nesta conformidade que elencaremos um conjunto de razões que podem conduzir ou explicar a cultura da morte e impelir o T. à sua verdadeira vocação: matar e multiplicar o medo nas sociedades parta matar mais ainda.
A saber:
1. O T. pode decorrer duma situação de instabilidade política negativamente relacionada com o desenvolvimento económico e social e com toda a modernização (ou falta dela);
2. Essa instabilidade pode derivar da frustração geral e da falta de expectativas sociais no seio duma sociedade;
3. Estar relacionada com a velocidade de modernização que contrasta com o atraso noutras, e dessa comparabilidade objectiva chega-se a uma triste conclusão que leva à frustração que predispõe à violência;
4. Essa frustração tem uma relação curvilínea com os níveis de coerção do próprio regime político em que se inserem, fazendo também com que disparem os índices de frustração geral/sistémica;
5. Logo, essa coercitividade está relacionada com as flutuações de força vs liberdade do regime político;
6. Não esquecer a presença de minorias étnicas poderosas que contribui para o aumento dessa instabilidade sistémica na esfera política e que faz desequilibrar todo o edifício de poder na sociedade e na esfera da globalidade, para onde se projectam todas as ambições das potências que operam nas relações internacionais;
7. Sendo que quanto mais elevado for esse índice de frustração social e económico maior também será a necessidade de impôr o nível de coercividade para repôr a ordem ou desencirajá-la.
Eis algumas derivas que nos deixarão por certo a pensar, interpelando as nossas crenças, atitudes e trajectos socioprofissionais que tecem a própria condição humana. Como alguém dizia:
  • A minha dignidade está em matá-los...
Uma expressão forte a exigir alguma meditação. Mas como se isto não fosse suficiente, o T. sente ainda uma necessidade patológica em humilhar as suas vítimas antes de as matar, tal como ele havia sido humilhado pelos seus opressores - regra geral personificados no grande satã: a América. Cremos, portanto, que um dos principais desafios do nosso tempo é, um dia, conseguirmos falar destas coisas com naturalidade às crianças, e explicar-lhes que tudo não passou dum pesadelo que jamais se voltará a repetir.

Resgatar a história

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José Pedro Castanheira com
Raquel Lopes
Arquivo Expresso
"O Secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger (à esquerda) com o Ministro britânico dos Estrangeiros, James Callaghan.
O secretário-geral do PS, inicia um périplo europeu com a intenção de dar a conhecer o novo Portugal. A 2, é recebido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, James Callaghan. O futuro primeiro-ministro inglês escreve ao seu homólogo norte-americano, Henry Kissinger, sobre o “útil encontro” com o português, que sugeriu que “a única pasta que o PS aceitaria” no Governo em formação seria a de primeiro-ministro.
Soares adianta que “declinaria o cargo de ministro dos Estrangeiros” e apresenta o PS como “a única força capaz de resistir aos comunistas, que, em sua opinião, contam com o total apoio da União Soviética”. O dirigente socialista mostra-se “muito impaciente” em avistar-se com Kissinger e visitar os Estados Unidos. Callaghan oferece-se como intermediário para um encontro. Acerca de Soares, o ministro britânico só tem palavras de elogio: “conheço-o há muitos anos e tenho uma grande confiança nele”, pelo que irá oferecer ao PS “ajuda técnica e organizacional, acreditando que um governo com a sua participação é o que melhores perspectivas oferece para o Ocidente”.
Kissinger responde de imediato a Callaghan (que trata por “Dear Jim”), a quem informa que o seu relato coincide com a conversa de Soares com o embaixador dos EUA em Bona, Martin J. Hillenbrand. Na opinião do responsável pela política externa norte-americana, “a situação em Portugal ainda é confusa e as intenções de Spínola não são claras”. Na capital da Alemanha Federal, Soares encontra-se também com o chanceler Willy Brandt, a quem explica as vantagens de integrar membros do PCP no Governo, por forma a “co-responsabilizá-los” pela política governamental. Ainda em Bona, avista-se com o embaixador da URSS, Valentin Falin; o embaixador americano faz questão de acentuar que a iniciativa partiu do soviético.
Segue-se Helsínquia, onde Soares transmite aos líderes sociais-democratas da Escandinávia os seus planos de integrar o futuro Governo, “talvez como primeiro-ministro”. Também aqui apoia a participação comunista no executivo.
A etapa seguinte é o Vaticano, onde é recebido pelo respectivo ministro dos Estrangeiros, o arcebispo Agostino Casaroli, que partilha as suas impressões com o embaixador dos EUA em Roma. Conta John A. Volpe que o número dois do Vaticano “sente-se incapaz de estar verdadeiramente optimista sobre o futuro” de Portugal. Tal como Kissinger, também Casaroli se queixa da falta de informações fidedignas, já que os relatórios do Núncio Apostólico em Lisboa, o arcebispo Giuseppe Maria Sensi, têm por fonte os anteriores contactos junto da Igreja e do Governo. Casaroli conta que esteve duas horas com Soares e que este lhe causou uma “impressão extremamente favorável, de uma pessoa inteligente, moderada e equilibrada”.
Obs. de lana-caprina:

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Pergunte-se ao Albert Henry Kissinger qual foi a sua política para o burgo e o que é que ele pensava da posição (relativa) do então PCP sobre o PS e dos ulteriores desenvolvimentos dos interesses portugueses ultramarinos, designadamente na Ásia - à luz da lente da política externa de Washington d.C. (conluíada com Jakarta e com o ditador e corrupto do lagarto de Comoro). Lembro-me que o dito Albert em 1991 veio a Portugal dar uma conferência ao Hotel Ritz - e só admitia no seu cardápio receber 3 questões. Depois meteu os 10 mil cts ao bolso - por dizer meia dúzia de babuseiras (na altura eram pérolas) e pirou-se para o aeroporto porque já tinha o avião à espera. Aquilo que salientamos é a relatividade das coisas e das pessoas, tudo é perene, tudo definha, tudo perde importância. Na altura ouvir Kissinger era como escutar um oráculo, hoje é um pouco como ouvir o beato César das Neves a explicar ao mundo que a Europa está em crise por causa da fragmentação da família. E do rebanho das alminhas que assim deixam de ir à igreja, que assim vê enfraquecida a sua influência na sociedade. O meu ponto é este: o que o tempo faz às pessoas... E à igreja, e aos beatos!!! Beatos esses que quando vêem um puto esfomeado na rua viram a cara ao lado com receio que a sarna se pegue. Mas lá se aperaltam para ir à igreja aos Domingos, todos engravatadinhos e polidos, mas é só por fora... Porque por dentro são exactamente iguais ao Kissinger. Quero dizer, piores porque entretanto já passaram 30 anos. Tempo que faz aparecer muito parkisson por aí... A última vez que Kissinger foi visto a subir a escadaria do Capitólio levava umas saias escocesas vestidas - dizem. E por cá, alguns restolhos, leia-se, ex-ministros do velho Botas, também passeiam a sua surdez pelos corredores dos micro-poderes. E se amanhã a democracia lusa virasse uma ditadura musculada, seriam os primeiros a dizer que nunca apreciaram a democracia. Com um bocado de sorte a dona Maria Eliza ainda elege um desses "grandes" portugueses apoiado nestes "citeriosos critérios". Às vezes é bom viver em Portugal. Outras vezes até apetece mandar Portugal à merda!!!

  • PS: Hoje não pedimos desculpa por ter mandado a nação à merda. Boa parte dela até merece.

Ciência: Invest. manifestam-se hoje junto ao Parlamento

Ciência: investigadores manifestam-se hoje junto ao Parlamento

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Os investigadores concentram-se hoje em frente à Assembleia da República, com tendas de campismo montadas para protestar contra a difícil situação económica e laboral em que vivem. A Associação de Bolseiros de Investigação Científica vai promover às 17 horas a iniciativa «Cientistas nas lonas», no âmbito da qual serão montadas as tendas. As queixas prendem-se com várias questões: “A falta de perspectivas, uma vez terminadas as bolsas, a ausência de uma protecção social digna, com a manutenção à margem do regime geral de Segurança Social, uma deficiente assistência na doença e a falta de qualquer assistência na eventualidade de desemprego”. A ABIC reclama também contra a “diminuição consecutiva” do valor real dos montantes das bolsas nos últimos quatro anos e contra os “vários incumprimentos do Estatuto do Bolseiro de Investigação, nomeadamente em situações de doença, maternidade e pagamento pontual das bolsas”. Perspectivas…
Em comunicado, os bolseiros de investigação científica referem que a situação que vivem constitui “o mais cabal desmentido das sucessivas declarações de aposta na Ciência”, por parte do Governo. Nesse contexto, querem dar a conhecer “a contradição entre as declarações e o investimento real” na Ciência. “Numa altura em que, em sede de discussão do Orçamento do Estado para 2007, se anuncia novamente o crescimento sem precedentes do orçamento para a Ciência, cabe perguntar com clareza quanto desse dinheiro vai ser usado para melhorar a situação dos que trabalham em Ciência”, questionam, considerando que as perspectivas anunciadas “não são famosas”, com a contratação a termo de 500 investigadores, “notoriamente insuficiente face às actuais necessidades”.

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Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso, como este ribeiro manso em serenos sobressaltos, como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam, como estas aves que gritam em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho é vinho, é espuma, é fermento, bichinho álacre e sedento, de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num perpétuo movimento.

[...]

Fazer mais do que isto... E faço-o de coração aberto, sem rede - que é o espaço onde os homens de carácter se distinguém dos "fujões", dos egoístas, dos mal-formados e dos deformados - de que a academia lusa está prenhe. E é também de coração aberto que afirmo que o ministro Mariano Gago (que sempre que assume a pasta faz disparar os indicadores de desenvolvimento na área da C & T) - já deve ter dinheiro, projecto para prover essas situações, falta-lhe é tempo para aplicar aqueles recursos. Portanto, temos assim um agente político com dinheiro, projecto - só falta encontrar o tempo. Afinal, o que é o Tempo... Este é que é o grande problema!!!

O tempus aeternitas segundo Boécio - noutra esfera, é já o tempo experimentado por Deus, ou seja, traduz todos os acontecimentos dos tempos passados, presentes e futuros numa espécie de Universo omni-simultâneo.

Quem já não se sentiu assim(?), peça integrante da lógica tridimensional do tempo. Mas o que buscamos aqui não são as ninharias a que habitualmente nos referimos do campo político, logo da área do amigo-inimigo, como dizia o "bom" do Carl Schmitt, mas antes essa aeternitas , ou seja,

a posse inteira, simultânea e perfeita de uma vida interminável.

É isto que é o tempo.

Quanto à Pedra Filosofal é oferecida a Mariano Gago, um grande apreciador do mestre - Rómulo de Carvalho - e também a todos os investigadores portugueses que dão o seu melhor (cá e no estrangeiro) na equação dos problemas que colocam à sociedade e à Natureza - e que nem sempre a Natureza devolve de forma satisfatória. É aqui que termina a ciência e rasga a Filosofia. E é a Lurdes que quer acabar com a Filó...!!??

Herta, Teresinha Joan - por Agostinho da Silva -

[...] O senhor quer dizer se é paisagem, se é retrato...
- Pois.
- Não, pintura.
- Patrick, como pintor, é cego - interveio Herta; - nunca pinta o que vê; ele acha que imaginar e pintar é o mesmo, fora a técnica.
- O mundo não precisa de mais retratos de coisa nenhuma, sabe senhor - continuou Patrick - o mundo precisa de modelos. Eu pinto, ou tento pintar, dá no mesmo, modelos do mundo.
- Pinta modelos do mundo, mas é do mundo que parte.
- É evidente. Nada pode fugir à sua essência; e se o mundo futuro fosse essencialmente diferente do actual ninguém o reconheceria. Só que eu vejo o mundo talvez melhor e mais belo do que ele é. [...]
Nota: Dedicado à nossa grande referência e amigo cujo legado foi tanto que nem o sabemos avaliar. Fica mais este singelo testemunho da autoria de Agostinho da Silva, Herta, Teresinha Joan. Por vezes, no meio do pó das coisas, tropeçamos em pérolas que nos fazem espirrar. Mas nesse espirro cabe o mundo...

Poema para Galileo - por Rómulo de Carvalho/António Gedeão -

Poema para Galileo
(...)Eu queria agradecer-te, Galileo, a inteligência das coisas que me deste. Eu, e quantos milhões de homens como eu a quem tu esclareceste, ia jurar - que disparate Galileo! - e jurava a pés juntos e apostava a cabeça sem a menor hesitação - que os corpos caem tanto mais depressa quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo? Quem acredita que um penedo caia com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo na praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu. (...)Por isso estoicamente, mansamente, resistente a todas as torturas, a todas as angústias, a todos os contratempos enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas, foram caindo, caindo, caindo, caindo, caindo sempre, e sempre, ininterruptamente, na razão directa dos quadrados dos tempos.
Nota: Poema dedicado a todos os que por ele foram tocados, dentro e fora do rectângulo, d' aquém e d' além mar.

Máquina do Mundo - por António Gedeão -

Máquina do Mundo
O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma. O resto é matéria.
Daí, que este arrepio, este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio, deve ser um intervalo.
António Gedeão/Rómulo de Carvalho

Humor (político) com iscas = "marcelices"

Marcelo agora faz análise política com introitos dos gatos fedorentos. Nada temos contra os rapazes, mas podia ser os Monthy Piton, mas virar comida para gato enlatado é que já começa a ser desesperante. Afinal, Marcelo sempre poderia ter uma melhor auto-estima. Hoje a sua fundamentação pareceu-me o Mourinho a falar inglês e o Joe Berardo a conceber teoria (macro)económica por entre uns peças d'arte e umas negociatas de cavalos alí d'Alter do Chão.. Com narradores destes venha o pior gato e escolha... O resto da estória é narrada pelo Jumento - que hoje perdeu mais de 5 min., com as ditas Escolhas. Imagino as gargalhadas que António Vitorino, mais sólido e intelectualmente sério, deve ter dado no seu sofá vendo Marcelo a actuar. Esperemos que hoje à noite Vitorino não siga o exemplo, e nos diga que é un petite-four dos imãos katita dos Ena Pá 2000 que actuam no Cais-do-Sodré depois dumas sessões contínuas na Boca do Inferno. Este Marcelo qualquer dia vira anedota, só destronado pelo Santana (versão tsf) - o único PM duma república eleito monárquicamente. Mas vamos ao essencial. E o essencial consta duma confissão que aqui fazemos pela 1ª vez: vejo as Escolhas só para contemplar a Flor Pedroso - que está cada vez mais bonita, mas aquele excesso de contemplação para com o Marcelo faz dela uma estátuta de beleza fosca. Eclipsou-se. Numa palavra: a Flôr já está alienada.

Já que estamos numa maré de humor, dedicamos este vídeo a todos os nossos amigos que fumam e pretendem deixar de fumar. Oxalá resulte, pois não queremos que ao largar um vício possam contrair outro.

GOLPE DE TEATRO?

Já dizia a Gina Lolobrigida que não importa que falem mal de nós, o importante é que falem.

Pois blogue que tanto incomodou Miguel Sousa Tavares, levando-o a escrever uma artigo no Expresso (que por coincidência foi antecedido por um artigo do Portugal Diário) graças ao qual se transformou em assunto de quase todos os blogues desapareceu, e com o mesmo endereço surgiu um blogue de propaganda a favor do livro "Equador" de MST [Link] onde não falta o endereço para a Amzanon, para o caso de alguém querer comprar o livrito.

Não acredito nessa hipótese, mas não faltará quem venha a insinuar que se MST tivesse querido relançar as suas vendas sem gastar um tostão em publicidade dificilmente teria feito melhor, e é um facto que foi o se artigo que deu notoriedade pública ao blogue que tanto o irritou".

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Nessa eventualidade sugerimos ao escritor que arranje um bom marketeer. Talvez, o Marketeer500 - já que se propõe mostrar as 500 maneiras de vender um pente a um careca. E quando assim é, o mercado das cabeleiras postiças não aguenta a concorrência.

E já que estamos em maré de humor - sugerimos que amanhã Marcelo e Miguel façam um programa sobre a sociedade da informação onde possam debater a importância dos blogues em suas vidas. Prometemos que deixaremos de ver o Mr. Bean para dar uma espreitadela, sobretudo a ajuizar pela cultura hi-tec que ambos evidenciam sempre que se debruçam sobram a matéria. Um já tem um blog de papel, o outro ainda manda fax. Isto é o que se chama teorizar a sociedade da informação a toque de carvão e da tecnologia do séc. XIX.

Lula ganhou e o problema do nome: Alk... (kê???)

Lula da Silva oficialmente reeleito Presidente do Brasil 29.10.2006 - 23h33 Reuters, PUBLICO.PT
O Tribunal Superior Eleitoral anunciou oficialmente a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva como Presidente do Brasil, após o escrutínio de mais de 90 por cento dos votos.
Com mais de 97 por cento dos votos contados, o candidato do Partido dos Trabalhadores soma 60,8 por cento das preferências (56.956.676 votos), ligeiramente abaixo do previsto pelas projecções divulgadas após o fecho das urnas no estado do Acre, o mais ocidental do país.
Geraldo Alckmin, candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e antigo governador do estado de São Paulo, não foi além dos 39, 2 por cento dos votos (36.743.880), um resultado aquém do conseguido na primeira volta, no dia 1 deste mês.
Aos 61 anos, o antigo metalúrgico e fundador do Partido dos Trabalhadores garantiu mais quatro anos no Palácio do Planalto, apesar de um primeiro mandato abalado por casos de corrupção que visaram seus colaboradores directos. Lula sempre negou qualquer envolvimento directo nos escândalos, acusando a elite política do país de fabricar casos para tentar parar as reformas sociais, mas não hesitou em afastar alguns dos seus mais antigos aliados.
[...] "Vamos costurar todas as alianças necessárias para que a gente possa ter tranquilidade e aprovar todos os grandes projectos que eu acho que o Brasil precisa", afirmou.
Notas Macroscópicas

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As eleições brasileiras passaram-me um pouco ao lado, mas gostei de ver um debate, com as suas regras rígidas e a forma como Lula e Alkmin se trataram. O Brasil é um continente, existe muito contraste, muita confusão, muito estado federado, muita reivindicação, muito açucar amargo. Muita cor, muito palavreado, muita promessa, muita corrupção. Tudo como em Portugal, mas em larga escala, com mais graça e com as vogais abertas. Com Lula admito que o pobre não fiquei mais pobre, nem mais iletrado. São mais 4 anos comendo pãozinho com manteiga e bebendo leitinho de vaca gorda à sombra do B-A-Bá. Dantes só bebiam água e comiam pão seco e não tinham o alfabeto ordenado. Será um tremendo progresso, sobretudo em sais minerais, vitamina e hidratos de carbono.

Só não compreendo é por que razão este bondoso povo brasileiro, que acede ao Macroscópio em número apreciável, e para quem nós mandamos daqui um abração transatlântico, voltou a dar a maioria ao Lula, que se furtou ao debate na 1ª volta e viu a sua gestão manchada de "n" casos de corrupção.
Com isto não quero dizer que Geraldo Alkmin, cujo nome só hoje percebi direito, fosse melhor opção. Com isso pretendo significar que agora seria a vez doutros roubarem. Então, o Brasil não é uma democracia? Pois se é merecia rodar...
Para o Brasil desejo muita esperança e muitos milagres, embora saibamos que Deus (já) não é brasileiro. Talvez volte a ser quando reganhar a Copa...Até lá o futuro pode estar mesmo nas mãos de Lula...

domingo

Miguel Sousa Tavares opina sobre a blogosfera e defende-se mal

CYBERCOBARDIA Miguel Sousa Tavares critica a blogosfera e, em particular os blogues anónimos:
«Excepção feita ao correio electrónico e à consulta de «sites» informativos, a Internet interessa-me zero. Todo esse universo dos «chats» e dos blogues não apenas me é absolutamente estranho como ainda o acho, paradoxalmente, uma preocupante manifestação de um processo de dessocialização e de sedentarização das solidões para que o mundo de hoje parece caminhar. Saber que nesses ‘sítios’ imateriais é possível fazer praticamente tudo, desde arranjar parceiros amorosos até recrutar terroristas para a Al-Qaeda, não é, a meu ver, um progresso ou facilidade, mas uma espécie de impotência, de desistência de viver a vida como ela é.
Tenho lido muitas opiniões contrárias, de gente que acredita que os blogues e toda essa conversa «in absencia» são uma forma moderna de democracia de massas, directa e instantânea, como nunca houve: uma espécie de «speaker’s corner» planetário. Mas discordo: não penso que a qualidade da democracia se meça pela quantidade de envolvidos e, menos ainda, pela irresponsabilidade. Não há liberdade de expressão onde existe impunidade do discurso. E se no «speaker’s corner» fala quem quer, também é verdade que quem fala tem o rosto a descoberto, pode ser convidado pelos circunstantes a identificar-se e pode, sobretudo, ser confrontado e contraditado por estes - enquanto na maioria dos blogues o anonimato é regra, santo e senha.
Mas não há nada melhor para confirmar ou desmentir uma teoria do que experimentar-lhe os efeitos. No meu caso pessoal, as experiências que conheço têm sido eloquentes: por duas vezes me foram atribuídos na Net e postos a circular textos que não tinha escrito e cujo conteúdo repudiava veementemente; o mais longe que consegui desfazer a falsificação foi o círculo de amigos que me falaram no assunto. De outra vez, deram-me a conhecer a existência de um blogue onde um autor anónimo se dedicara a fazer a minha biografia, acrescentada posteriormente por toda uma série de contribuições igualmente anónimas: eram 27 páginas de conteúdo (!), mas bastou-me ler as duas primeiras para desligar, enojado com a capacidade de invenção, difamação grave e cobardia que aquilo revelava. Esta semana, enfim, estava-me reservada mais uma experiência do género.
Um qualquer tipo dera-se ao trabalho de pegar num romance meu, manipulá-lo devidamente (por exemplo, pegando num início de frase e acrescentando-lhe outro situado 12 páginas adiante), para afirmar, sem estremecer, que todo o meu livro era um plágio do outro, “uma fraude sem pudor”. Uma hora depois de este blogue ter nascido, exclusivamente dedicado a acusar-me de plágio, um jornal telefonava-me para casa a pedir um comentário à “acusação”. Primeiro, pensei que estavam a brincar, depois percebi que levavam a coisa a sério e tentei mostrar o absurdo daquilo: o meu livro era um romance histórico, em que os personagens principais eram todos ficcionados, assim como a história, o outro era um livro de história, um relato jornalístico do mandato do último vice-rei inglês da Índia, em que os personagens eram o Mountbatten, o Nehru, o Ghandi, o Jidah; o meu livro situava-se em 1905, em São Tomé, o outro em 1949, na Índia; o meu tratava da escravatura nas roças de cacau de São Tomé, a par de uma trama amorosa, o outro tratava da independência da Índia; enfim, como se perceberia, simplesmente, lendo-os, tanto a construção narrativa como a escrita eram obviamente diferentes, tratando-se de géneros literários totalmente diferentes.
Mas o autor do blogue revelava-se um profissional da manipulação: ele pegava em excertos afastados entre si da versão inglesa do outro livro, colava-os como se fossem uma só frase, comparando-os então com outras frases minhas a que chamava “tradução” e que um jornal dizia serem “frases inteiras iguais”. Mas iguais eram apenas os factos nelas contidos: os dados biográficos de quatro marajás da Índia. Ora, como tentei explicar, qualquer pessoa percebe que um romance histórico ou um livro de história, quando chega aos factos reais, tem de recorrer a fontes, que são outros livros ou documentos preexistentes.
De outro modo, não os tendo vivido, ao autor só restaria inventá-los ou distorcê-los, para não ser considerado plagiador: eu deveria então ter trocado os nomes ou os dados biográficos dos marajás que convoquei, assim como os do senhor D. Carlos ou de outros personagens históricos que entram no meu romance. Em vez disso, limitei-me a fazer uma coisa que nem sequer é habitual neste género literário: identifiquei as fontes a que recorri, entre as quais o tal livro que o anónimo da Net me acusava de ter copiado - ou seja, deixei as pistas todas para ser ‘apanhado’.
Porém, o meu Torquemada concluiu ao contrário: se eu citava 29 livros como elementos “de consulta do autor” e se ele, recorrendo apenas a um deles, encontrara semelhanças com duas páginas das 518 do meu livro, era caso para “esfregar as mãos de contentamento, partindo à descoberta de mais algumas pérolas da exploração do trabalho alheio”.
Infelizmente, ninguém se deu a esse trabalho ou menos até. Debalde, tentei explicar ao enxame de jornalistas que imediatamente me caiu em cima que o simples facto de darem eco àquele blogue anónimo, sem verificarem previamente o fundamento da acusação gravíssima que me era feita, equivalia a transformar uma mentira privada, ditada pelo despeito e inveja, numa calúnia produzida à vista de milhares. Com esta agravante decisiva: o único meio de que disponho para defender eficazmente a minha honra e o meu trabalho, que é o tribunal, está-me vedado, pois não sei de quem me queixar e quem fazer condenar como caluniador. Não sendo esta a regra, como poderá alguém, por exemplo, defender-se convincentemente de um blogue anónimo que o acuse de pedofilia, tráfico de drogas ou qualquer outra coisa abominável?
Tentei explicar que, perante isto, não bastava reproduzirem a acusação e ouvirem a minha defesa. Era pelo menos necessário que lessem os dois livros e percebessem que tudo aquilo era absurdo e que a aposta deste manipulador anónimo era justamente a de que os jornalistas não se dessem a incómodos.
Foi tudo em vão, claro. Responderam-me que o outro livro não estava disponível em Portugal e que, “face à gravidade da acusação” (justamente...), não se podia ignorar o assunto, pois, como me explicou sabiamente um jornalista eufórico, “a bola de neve está a correr e é imparável”. E correu. E foi. Dos tablóides ao respeitável ‘Público’ - onde, confessando-me não ter conseguido obter o livro supostamente plagiado (e, se calhar, sem sequer ter lido o meu...), uma jornalista escreveu, preto no branco: “Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais”. E, assim, com esta ligeireza, se suja a honra de uma pessoa e se enxovalham anos e anos a fio de trabalho, esforço e imaginação.
O que já sabia dos blogues confirmei: em grande parte, este é o paraíso do discurso impune, da cobardia mais desenvergonhada, da desforra dos medíocres e dessa tão velha e tão trágica doença portuguesa que é a inveja. Mas fiquei a saber, e não sabia, que os blogues, mesmo anónimos, são uma fonte de informação privilegiada e credível para o nosso jornalismo.» [Expresso assinantes Link]
O sublinhado é do Macroscópio
Texto picado no Jumento

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Notas Macroscópicas
Tentaremos enquadrar o "problema" do Miguel Sousa Tavares (MST) em vários tempos começando, desde já, por apreciar como ele termina o seu texto - até porque se eu (Rui Paula de Matos, autor do Macroscópio, e nascido há 40 anos na Clínica São Grabiel em Lisboa) - quisesse ser maldoso (e invejoso e quezilento), como muitos bloggers o são (e alguns estúpidos e arrogantes senão mesmo ofensivos e sem a menor formação cultural) - dizia já que o MST plagiou o Camões porque acusou a generalidade dos bloggers de serem invejosos (o que é verdade). Dizia o génio Luís Vaz:
[...]
Fico que em todo o mundo de vós cante
De sorte que Alexandro em vós se seja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja.
É claro que ele não plagiou o Camões que, aliás, foi o Homem que melhor definiu um dos traços estruturantes da personalidade colectiva dos portugueses. Ainda numa última conversa com oito amigos o dizia, por mero acaso, e agora volto a este assunto por causa de alguma blogaria menos escrupulosa que mancha o nome daquela outra que aqui se comporta com alguma decência, com regras e ética, ainda que combatendo e lutando contras as injustiças deste mundo. E aqui, o MST, que pensa e escreve bem, tem notoriedade - teve o pai e a mãe que teve (pessoas cultas, preparadas e referências para qualquer um de nós) - terá de ser menos absoluto e perceber que já há hoje pessoas em Portugal, inclusive na blogosfera, que fazem tudo isso tão bem ou melhor do que ele, têm tantos ou mais leitores do que ele e, nem por isso, são pessoas invejosas, cobardes, mesquinhas ou quezilentas. E é aqui, naturalmente, que a generalização de MST peca porque toma a árvore pela floresta, o estaleiro dum blog anónimo pelo castelo, os moinhos-de-vento por gigantes... Estranho isto por parte de um jornalista/repórter/escritor do calibre de MST.
O que seria a sua resposta se a farpa tivesse nascido dum colega seu de jornal??? Apesar da objectividade com que Miguel escreve esta generalização, ainda que caricata e burlesca, reporta-me aquele confusão resultante da situação das duas meretrizes que manifestam a D. Quixote tanta consideração e delicadeza que este as toma por donzelas de nobre estirpe da corte. O mesmo se passa com o esquema mental de Miguel e com toda a sua argumentação em considerar relevante um blog anónimo (que logo desapareceu, impune e cobardemente) que o acusou de plagiador - de uma sacanice que ele não cometeu. Mas é esta radicalização (vitimização) que, confesso, não compreendo na pena de MST:
Não sendo esta a regra, como poderá alguém, por exemplo, defender-se convincentemente de um blogue anónimo que o acuse de pedofilia, tráfico de drogas ou qualquer outra coisa abominável? (sugerimos ao MST que interponha requerimento à autoridade judicial competente a fim de descobrir o IP correspondente do autor dessa injúria e mande proceder a investigações com vista a instaurar um processo crime ao autor/s material desse blog. O MST é jurista, conhece as leis, e como vivemos num (suposto) Estado de direito deve defender-se e fazer valer o seu direito a essa luz. Fazer as generalizações injustas que fez e nada fazer perante a Justiça revela duas coisas: não acredita no Direito/Justiça do seu País; persiste no erro básico da sua generalização). Incorrendo, assim, numa injustiça para com todas as outras pessoas e blogs de bem.
Além de que o exercício ao recurso da figura da generalização - em qualquer temática - é analíticamente tão arriscada quanto ilógica, e até estranho isso nele - pessoa inteligente e culta - parece que ficou desamparado e perturbado ante aquela crítica anónima (e cobarde e com escasso fundamento técnico-literário) - e recorreu a esse absurdo analítico para se justificar perante esse tal blogger anónimo. Por isso, concluíu dizendo: O que já sabia dos blogues confirmei: em grande parte, este é o paraíso do discurso impune, da cobardia mais desenvergonhada, da desforra dos medíocres e dessa tão velha e tão trágica doença portuguesa que é a inveja.Blockquote É pobre, pobrezinho... Camões disse-o há 500 anos com pleno fundamento, o MST claudica ante um sopro duma andorinha.
Embora, não haja estatísticas sobre essa arrogância e inveja institucionalizada que grassa na blogosfera, cremos, contudo, que o MST aqui esteve menos bem, e porquê? Neste particular, e pressionado quer pelos jornalistas (e ele é um jornalista, sabe como pensam e actuam melhor do que ninguém) ele deveria ter tido outra abordagem: aceitar dar uma conferência de imprensa desafiando o autor(es) do tal blog (que o Macroscopio nunca viu ou leu) na presença do acusador. Doutro modo remeter a "estória" e o seu ténue fundamento - para o caixote do lixo da maledicência e da pura inveja ou qualquer outro ajuste de contas do passado ou outra motivação da condição humana que a psicologia explica.
Fazer o que o MST fez, pareceu-nos uma reacção perturbada, nervosa e até pouco lúcida e inteligente. Reagiu como aquele marido que chega a casa mais cedo do que o esperado e apanha a mulher com outro na cama. Revelando que, afinal, até os grandes repórteres em Portugal se deixam instabilizar por um arrufo desbragado... É dos nervos, dirão os psiquiatras... Uma ninharia, - o que revela a má fé do seu autor(s) e dos intentos que através dele procurou obter - manchando, assim, o nome de todos aqueles que se servem dos blogues para analisar os fenómenos sociais de forma séria e transparente. E, pelos vistos, dada a escassa lucidez do MST - conseguiu (em parte). Já vimos MST enervado por causa do desordenamento urbano e paisagístico, por causa do "sangue-suguismo" financeiro de Alberto João Jardim, por causa dos militares sentados à manjedoura do OGE, mas agora por causa dum blogger anónimo!!! Sem existência/permanência na rede...
Porventura, bem mais consistentes foram as críticas que Vasco P. Valente lhe dirigiu e que estão inseridas no livro de João Pedro George (JPG), Não é fácil dizer bem, ed. Tinta da China, 2006, págs. 63-68 - onde se afirmam as seguintes passagens:
O problema central deste livro (Equador) está na escrita, que se presta a grandes reparos e deixa muito a desejar: "pobreza do vocabulário, limitados recursos expressivos, estilos sem matizes, descuidado, repetitivo. O suficiente para vulgarizar um livro. Feri-lo de morte". Ex: João Forjaz, um dos membros do grupo das quintas-feiras e seu amigo de sempre (p. 18); "mal tinha acabado de entrar na sala de baile, vindo do bar e das mesmas conversas de sempre com os mesmos de sempre" (p.26). Segundo sistematização de JPG. Eu, confesso, nunca li um único livro de MST, embora saiba que pensa e escreve bem e de forma consistente. O seu extenso contributo na imprensa provam-no à saciedade. De modo, que é de admitir existir neste epifenómeno, artificialmente criado, muita inveja e sacanice, mas não por esta ordem.
E prosseguem os exemplos que, segundo, JPG, fazem de MST um escritor com vocabulário pobre: "volta e meia tropeçamos em coisas como o melhor peixe do mundo (p.23), "dar resposta mais natural do mundo (p.28), "como se fosse a coisa mais provável do mundo (p.34), serviram sumo espremido das laranjas de Vila Viçosa - as melhores do mundo (p.36), demorara todo o tempo do mundo (p.96), "o homem mais rico e mais avarento do mundo (p.245), com o ar mais calmo e natural do mundo (322). De seguida JPG aduz mais exemplos semelhantes colhidos ao longo do livro Equador de MST.
Será isto grave no livro tão extenso??? Não me parece... Apesar de, como referi, não ter lido o livro, apenas me baseio na fundamentação de um jovem sociólogo da cultura que anda aborrecido com o mundo - porque o mundo não lhe deu aquilo que ele, quiça justamente merecia - e então dedicou parte do seu tempo a estas coisas, e bem, cremos nós. Ao menos não se meteu na droga nem deu em ecofundamentalista...
Mas isto não chega para "morder as canelas" de MST, revela apenas descuidos, desatenções, sucede a qualquer escritor que escreve um romance longo e não é perfeccionista como o aristocrata do Eça (que era um cagãozinho e nem a categoria social "povo" avulta nos seus romances, coisa que ele tenta remediar no fim de sua vida), e depois a coisa é publicada com alguma negligência vocabular, mas não tão grave como aquele episódio do Luís Pacheco - que foi publicado com "alhos" e bugalhos" à mistura porque o editor, e a pressão do tempo para publicar, por vezes conduzem a erros gritantes. MST é ainda acusado de muletas literárias, de vícios de linguagem, de recriar uma monotonia de paisagens (narrativas) que podem aborrecer o leitor.
Depois de substanciar mais e melhor o seu ponto de vista JPG conclui que MST é portador duma insuficiência linguística, limitação na linguagem? Trapalhice? Custa-me a admitir, mas é o que parece (p. 68) - diz - JPG.
É óbvio que JPG não é aqui uma referência clássica para nós, é um instrumento de trabalho disponível actual e útil, ainda jovem como jovens são as suas apreciações sobre cultura portuguesa e universal, apesar de ser um sociólogo da cultura (creio, e até me solidarizei com ele por mail - que ele me retribuiu gentilmente - quando a acusadora Margarido Pinto Rebela fez dele réu e cuja causa perdeu aquando da edição de um outro livro seu - Couves e Alforrecas - em que denunciava aquela de plágio da autora ligth) ...
Só que o Miguel Sousa Tavares tem outra formação, outra inteligência, outra lógica, outro background, em suma, tem outra estatura e outra cabeça. Espero que agora o JPG não me acuse aqui de ter utilizado muitas vezes a palavra "outra" e de ter um vocabulário pobre... Além de ter tido, como referi, os pais que teve, e isso deve ser relevado, muito em particular a senhora sua Mãe, Sofia Mello Breyner Ardersen recentemente desaparecida entre nós - e que deixou uma imensa obra de excepcional qualidade. Portanto, o Miguel é fruto duma circunstância socio-cultural e familiar concreta, foi alí buscar um capital genético - depois aprofundado e afinado - por toda uma educação que a maioria dos portugueses não tiveram nem terão. Mas o MST é, sublinhe-se, daquelas pessoas naturalmente inteligentes. Aliás, ele transpira inteligência. Ele podia escrever o maior plágio do mundo, que a sua oralidade, a sua capacidade de argumentação, ou seja, a sua estrutura lógica e de relacionação dos factos (políticos, económicos e culturais), suprimem essa falta ou insuficiência vocabular que, alegadamente, aquele jovem sociólogo o acusa. O mesmo que há dias debitava umas generalidades socioliterárias sobre a vida e obra de Luís Pacheco. Aí sim, registei uma fraseologia muito pobre por parte de JPG, muito emotivo e pouco construtivo... O mesmo que ora acusa MST na sua escrita naquele seu livro que aqui faço o favor de lhe citar.
Ou seja: há pessoas que pensam, falam e escrevem bem, é o caso de MST (especialmente crónicas, que é as que melhor conheço); e depois há casos, o daqueles rapazes que escrevem umas coisas e quando abrem a boca denunciam uma oralidade made in Jorge Coelho (pois não "hádem" que sim, pois concerteza!!!). Isto só não basta para crucificar uma pessoa.. Einstein tinha uma oralidade muito áquem da sua inteligência conceptual e experimental... Guterres, como se lembram, tem uma lógica discursiva genial, parece uma récita de poemas, fala 7 línguas em sete minutos, no entanto a sua governação terminou como terminou; o "Fujão" barroso não pensa, não fala nem escreve, afirma apenas os seus interesses pessoais e políticos e vai-se safando à custa dos parolos que o elegeram - primeiro em Portugal, depois para a Europa (G.W. Bush e a arrastadeira Tony Silva Blair). Sócrates esgrime bem, mas nunca escreveu nada, veremos como continuará a governar.. Portanto, cada caso é um caso, e as generalizações também aqui são redutoras e perigosas.
Mas regressando ao Miguel, que é uma pessoa que admiramos - naquele seu registo temperamental e mordaz, incisivo, lógico, ambientalista e humano q.b., e sem nunca adular ou abanar a cauda aos ricos e aos poderosos deste mundo, mostrando sempre o lado mais humano (e justicialista) dos problemas. Mesmo que cometa imprecisões exóticas, como a que supostamente decorreu de colocar papagaios nos jardins da casa do governador em S. Tomé, quando estes só existem na outra ilha (no Príncipe), além da omissão aos crioulos santomenses... Tudo desatenções de somenos que, cremos, não prejudicam uma narrativa de fôlego, ao que parece. Porque, como disse, nunca li nenhum livro de MST. Nem creio ser necessário... Há outros bons indicadores para sedimentar um juízo.
Mas o erro mais grave do MST é outro, bem outro. Resulta do seu gritante analfabetismo digital. Ele nem se apercebeu das barbaridades que disse logo no arranque do seu artigo: Excepção feita ao correio electrónico e à consulta de «sites» informativos, a Internet interessa-me zero. Todo esse universo dos «chats» e dos blogues não apenas me é absolutamente estranho como ainda o acho, paradoxalmente, uma preocupante manifestação de um processo de dessocialização e de sedentarização das solidões para que o mundo de hoje parece caminhar. (...)
É óbvio que isto "mata" o argumentário do Miguel em matéria de sociedade do conhecimento. Revela confusionismo tecnológico (chats e blogs - que reconhece serem-lhe estranhos..., ao menos admite a sua ignorância digital!!!), não perceber que a sociedade não se pode ater ao consumo acrítico de tv e jornais, e que hoje, muito boa gente (onde presumo incluir-me, e outros muito melhores do que eu - que fazem mais num dia do que o Miguel em 2 meses) entram e navegam na Net e produzem conhecimento, teoria, informação completando, assim, falhas graves que muitos jornalistas, alguns dos quais mal formados (e pior informados) todos os dias veiculam para o espaço público, formatando errada e falaciosamente a opinião pública portuguesa. Portanto, aqui o Miguel deveria ser mais humilde e não falar daquilo que não sabe ou desconhece parcialmente. Seria bem mais interessante se falasse do que sabe, do jornalismo e dos jornalistas que o rodeiam. Aí é que o terreno está efectivamente minado, mas aí ele não entra...
Mas o Macroscópio vai aqui dar uma ajudinha ao Miguel, até pela consideração que nos merece, (o tal que nasceu na clínica S. Gabriel há 40 anos e está identificado) - não creio que MST tenha razão quando aventa outra bujarda que tanto pode valer para alguma blogosfera como para algum jornalismo. Segundo afrma: os blogues conduzem a processos de dessocialização e de sedentarização das solidões - blá, blá, blá... Esta o Miguel deve-a ter recolhido daqueles manuais bolorentos de sociologia da família (de tipo neomarxista, fazendo lembrar as sebentas inúteis de vital Moreira) editados na década de 70/80, mudando só o nome às coisas. Então isto não era já aplicado ao visionamento de tv? Claro que sim... E é obvio que aquela asserção tanto pode conduzir à alegada dessocialização como, ao invés, potenciar laços pessoais, profissionais e alavancar competências na Rede - que ele revela desconhecer.
Então o Miguel nunca ouviu falar na teoria da rede??? Das suas vantagens e virtualidades, mormente ao nível da sistematização de conhecimento que está disperso fluindo por caminhos errados, e que a blogosfera pode ajudar a encaminhar. É óbvio que a cultura da sociologia da informação do Miguel é demasiado limitada, a sua reflexão não lhe permite ter elastecidade sifuciente para perceber que 1 + 1 pode ser igual a 3, a 6, a 8 ou 22.
O Miguel carece urgentemente de ler algumas coisinhas nesta área do saber, desde logo porque desconhece a forma como a critiavidade se aprofunda entre duas ou mais pessoas (bem intencionadas, é claro - e até podem ter a sua identidade oculta - como fazem o Jumento ou o Globalidades - só para citar um dos melhores blogues portugueses e um dos mais recentes que tem identidade oculta mas que não integra nenhuma associação de malfeitores), daí o perigo das generalizações acussadas, perigosas e redutoras de MST veículadas ao Expesso este fim de semana. Mas percebe-se porquê: o Miguel ficou nervoso, claudicou ante a investida dum anónimo... e reagiu como um "touro" ferido fora da arena.
E o que fez Miguel para além de "galgar os taipais" do Campo Pequeno (figurativamente falando) e de ter interrompido o trânsito na Av. da República por 10 min.?! Para que serviu esse show-of na sociedade portuguesa... Para se lamentar, para dramatizar, para empolar uma questiúncula sem expressão dum blogger cobarde.. Ou para atingir a blogosfera no seu conjunto (misturando a boa e a má) - porque não gosta, detesta ou quer mesmo exterminar a blogosfera em Portugal?! Para quê, afinal?! Que contributo intelectual deu Miguel à discussão? Talvez o mesmo que deu em tempos Pacheco Pereira, regando com gasolina de avião um fogo que queriam extinto...
Mas convinha que o Miguel - futuramente - não escrevesse tanta banalidade acerca da blogosfera como se ela fosse toda igual. Eu também não comparo a qualidade intelectual e analítica do Miguel a alguns jornalistas de pasquins como os crimes, do 25h, as caras ou doutras publicações do grupo balsemão - onde o Miguel trabalha - que nem para forrar o caixote do lixo servem. O Miguel deve ser mais humilde, repito, talvez começar por ler Arthur Koestler para perceber o acto da criatividade (ou da criação), ou seja, como se desenvolve a aprendizagem em que, por vezes, o professor e aluno são a mesma pessoa, o mesmo se diga do repórter com o leitor, o governante com o governado, o médico com o paciente. Mas se sentir necessidade pode regressar ao velhinho Piaget, nunca é tarde para aprender os fundamentos.. Basta que sejamos humildes.
Exs: quando o Miguel fazia aquelas belas reportagens do fim do mundo havia essa identificação entre o repórter e o leitor (porque a subjectividade de um ía ao encontro da objectividade dos factos); quando Guterres tomou em ombros a independência de Timor-leste (dizendo em privado a Bill Clinton - na altura apertado pelas saías de orgásmicas de Mónica - que se este não ajudasse aquele se demitiria da Internacional Socialista e do governo português - ainda que fosse um grande bluff, mas Clinton levou-o a sério e pressionou o ditador de Jakarta, o ditador de Comoro) - aí o povo português indentificou-se nesse desígnio - havendo, por isso, indentificação entre governante-governado. Os exemplos destas legitimidades poderiam repetir-se, contrariando a ideia do Miguel quando afirma que os blogues servem para fragmentar as pessoas em lugar de as unir ou fazer convergir em torno dum objectivo de conhecimento, criando uma comunidade epistémica de que, por exemplo, o blog Globalidades é um caso recente. Se o Miguel lá for verá que aprende duas coisas: um pouco de teoria da globalização e também aprende a ser mais humilde quando teoriza sobre coisas que desconhece quase em absoluto. Será que ele é dos tais que ainda anda à procura da "@" debaixo da mesa da sala de jantar?! Quer-me parecer que sim...
Dizemos ainda ao Miguel o seguinte: construir uma rede de conhecimento - pode hoje ser possível através dum simples blog (que ele desconhece e confunde com os chats), tal significa fazer crescer os índices de transferência e de transformação do conhecimento entre duas ou mais pessoas. Para isso, não é preciso criar uma empresa como o Expresso - onde o Miguel escreve, basta apenas que o Miguel saiba blogar e acertar no Publish do blogger, e assim começar a alavancar conhecimento em toda uma problemática. Basta que se desloque o conhecimento do plano individual para os níveis de grupo no seio de um mesmo blog - ou duma rede deles que se possa consolidar em torno duma dada temática.
Sem que o blogger - que pode ser um jornalista, um médico, um investigador, ou mesmo o Miguel - se converta num mero gestor de imagem ou apresentador de tv ou de programas de entrevistas. Os blogues são hoje as ferramentas mais perfeitas e maduras da internet, pois facultam uma tecnologia e uma capacidade de rede que permite multiplicar o conhecimento a uma forma infinita, inimaginável. Trata-se duma estrutura conectiva de que o Miguel nem sonha, tanto mais gratuita - fornecendo assim aos milhões de leitores - artigos, opiniões, ensaios, etc, - que o Miguel nunca conseguirá pensar ou escrever, ou até supor que um dia poderá imaginar no que já foi feito e/ou publicado. É aqui - neste patamar da ignorância e do analfabetismo digital - que o Miguel navega e acaba por ser aprisionado. E por quem??? Por um anónimo que entrou na rede à velocidade da luz, fechando logo a sua "tasca" a seguir por medo e cobardia...
Desconhece as conexões entre os blogues, o que versam, como funcionam, que massa crítica comportam, como arrancam e como se desenvolvem, no fundo, o Miguel conhece tanto destas estruturas conectivas como eu de caractéres chineses ou de culinária tailandesa. E só por pudor é que não cito aqui a cerca de dúzia de links que o Macro tem escrito sobre essas lutas entre a mediasfera (onde está o Miguel, com acesso fácil aos jornais, rádio e tv) e a blogosfera (de que a maior parte das pessoas está privada). E daqui não decorre nenhuma inveja, note-se - até porque eu próprio considero produzir mais num dia do que o Miguel numa semana, com toda a franqueza... E só não lhe recomendo a leitura do Jumento, talvez o melhor blog nacional (e com o qual no outro dia até fui confundido, para meu elogio, certamente!!) para não o envergonhar. Aí ele perceberia o que valem os seus artigos, a sua oratória, todo o seu background... E, quiça, até os seus livros.
Mas nunca é tarde para ver e comparar... Afinal, a mediasfera sente-se hoje acussada (e em parte com razão, por causa desses pequenos energúmenos bloguistas que usam da ofensa e da falta de argumentos para injuriar tudo e todos) - e grita o Miguel - Ao Lobo!!! Ao lobo!!!! - só que durante anos essa fórmula - já esgotada - foi aplicada a certos jornais, hoje ela é canalizada para a blogosfera - sem, contudo, os acusadores fazerem um esforço para deixarem de serem tão analfabetos (digitalmente falando) e, ao mesmo tempo, trazerem verdadeiros contributos decorrentes das mudanças que foram introduzidas por aquelas aplicações informáticas que, silenciosamente, são hoje utilizadas por milhões de pessoas, integrando-as num contexto de produção de conhecimento que não seria possível se esse dispositivo não estivesse disponível no mercado das aplicações (e de forma gratuita). É também isto que o Miguel desconhece...
E porquê? Voltamos ao mesmo... O Miguel não sabe "puto" deste meio e confundiu tudo e todos. Meteu as meretrizes no lugar das donzelas, estas no lugar daquelas; misturando pardieiros com espaços de reflexão/castelos, misturou a árvore com a floresta e os moinhos-de-vento com os gigantes. Talvez um regresso a D. Quixote, este sim - um verdadeiro romance - não lhe faça mal nenhum... Ao menos poderia corrigir os erros de que alguns os acusam.
Ele terá de compreender que esta mudança é imparável, mas para o Miguel só contam os mails - pois deve ser a única coisa que ele deve saber manipular num PC, as secretárias farão - porventura - o resto... Mas são os blogues, e não a imprensa onde o Miguel escreve, que está a modificar a nossa relação com a informação. A forma de produzir, gerar e acumular conhecimento, de gerar comunidades epistémicas, de alfabetizar muita gente que até é na blogosfera, paradoxalmente, que aprende a escrever - componente importante da alfabetização.
Quantas e quantas pessoas não aprendem hoje a ler Sofia Mello Breyner Andersen pela net - que depois usam nos seus blogues - de forma gratuita e levando o nome da escritora mais longe??? São, provavelmente, as mesmas pessoas que não terão recursos para comprar um livro de poesia da mesma autora, apesar de a divulgarem cada vez mais. Será que o Miguel já pensou nisto??? Ou ainda vegeta naqueles raciocínios de pacotilha de sociologia da família da década de 70... Confesso que aqui a elaboração intelectual do Miguel foi minada pelo desequilíbrio psicológico e pela instabilidade emocional em que o tal "artista" do blog anónimo o deixou. Empurrando o Miguel para fora dos taipais do Campo Pequeno para bloquear o trânsito da Av. da República por 10 min.
Por último, e para não me alongar, embora seja a consideração intelectual que devemos todos ao Miguel Sousa Tavares (creio, embora só fale por mim) - gostaríamos de lhe dizer o seguinte: actualmente, são os sectores mais avançados da sociedade aqueles que estão conectados e não, como ele diz, aqueles que estão isolados. Então, o seu expresso não tem por lá tanta blogaria??? Alguns até são tecnólogos de coisa nenhuma, julgando-se gurús da sociedade tecnotrónica, e quando os vou ler - só posso dizer... coitados!!! Estes tipos não conseguem integrar conhecimento, apenas debitam sounds, bites e bytes. E alguns são tão lesmas que nem de semântica percebem. Não percebendo sequer quando gozamos (carinhosamente) com eles...
Hoje as hierarquias já não se fazem hierarquicamente, de forma centralizada, de cima para baixo, mas de forma horizontal, através dos diversos nós da rede que já nada têm a ver com o esquema mental de pensamento industrial que o MST denuncia ao longo daquele seu texto, em que se procura defender dum cobardola que nem a coragem tem para revelar o seu nome.
Quanto ao Miguel, e à consideração que temos por ele, só lhe podemos dizer - que apareça - nem que seja para discutir ideias. O Pacheco Pereira já o começou a fazer, e às vezes não se dispensa de ser justamente criticado. E como não tem resposta ou não sabe o que responder - ou porque encontrou alguém que já leu ou rasgou os livros por onde ele aprendeu - cala-se. Espero que não lhe siga os passos... Senão vou pensar que é como JPP, só discute política ou ideias com o "genial" do Jorge Coelho - que me dipenso aqui de classificar..
Pois nesta área do conhecimento, percebemos que terá muito ainda que aprender. Mas compreendemos a posição que o Miguel toma neste particular, neste choque de micro-poder, a que ele, descontroladamente, deu demasiado poder/importância. Hoje, muitos jornalistas, até os mais experimentados, regra geral aqueles que não têm um conhecimento aprofundado da Rede ou do Rizoma, sentem-se atacados por esta nova entidade, por este decisor oculto (o meu tem identidade) que entrou de forma algo indelicada no chamado ecossistema da mediasfera reinante, e que agora se vê a esperniar porque cessou o termo do seu monopólio. Fragmentando até o mercado (e os lucros) da velhinha imprensa...
Um dos grandes erros de MST é o de não perceber que a mudança em curso não decorre apenas dos conteúdos, mas na nova natureza das relações e da nova classificação que tende a codificar esse novo relacionamento entre pessoas e organizações. O Miguel ainda pensa que esses dois sistemas (mediasfera/jornalismo de poltrona e a blogosfera) são concorrentes entre si, e vivem genéticamente em contraposição. Tamanho erro!!! Os blogues e o velhinho jornalismo tendem - cada vez mais - a serem complementares - pelo que integram uma galáxia maior - do que se estivessem operando isoladamente no sistema. Embora um e outro tenham, naturalmente, códigos, regras e equilíbrios distintos.
Sendo certo que a blogosfera pode ser boa tal como o jornalismo. Uns e outros podem dar-nos análises enriquecedoras sobre o nosso mundo, contribuir para valorizar percepções que cada um de nós tem do meio social, político e cultural em que vivemos. Dito de outro modo: pela blogosfera, os indivíduos - as pessoas anónimas - passaram a participar no grande debate de ideias e no jogo de influências da chamada formatação da opinião pública. E parece que isto desagrada a muita gente nos velhinhos jornais de papel..Rouba palco a alguns jornalistas.
Enviamos daqui um abraço ao Miguel, com votos de boa sorte e com um "conselho" comezinho: nunca se deixe instabilizar por um ente sem rosto e de má fé... Isso é também a estratégia do terrorismo ciber-virtual (errático) que hoje se abate sobre as sociedades europeias, salvaguardadas as devidas distâncias...

sábado

Freakonomics, again... Uma novidade (já) velha

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Toda a gente sabe que o menino d'ouro da América económica de 2004 foi Steven Levitt com a sua obra Freakonomics. Não havia montra de aeroporto que não tivesse a capa do livro. Foi um fartar de vendas, e ainda bem para Levitt. Só um economista distraído e desactualizado não o sabe. Mas ainda há muita gente centrada no seu umbigo que depois se esqueça do que se passa em redor do mundo. Mas agora apontamos noutra direcção simultaneamente reconhecedora e crítica.
Vamos, sumariamente, à primeira para de seguida nos atirarmos à segunda. Levitt, de facto, encontra correlações interessantes nos fenómenos sociais que têm interesse público e afectam o curso da vida em sociedade que exige sempre mais e melhores políticas públicas por parte dos governos dos Estados.
Estabelecer correlações entre (a queda da) criminalidade na América e a prática do aborto, os comportamentos dos agentes imobiliários face à vendas das casas que lhes pertencem, o caso dos médicos que fazem cesarianas a mais, o mito das despesas nas campanhas eleitorais, o estudo dos infantários e da obrigatoriedade de respeitar horários e do poderoso efeitos dos incentivos, o caso dos professores que fazem batota nos seus testes, as fraudes nos sumos, as similaridades entre os Ku Klux Klan e os agentes imobiliários, as mentiras eleitorais e o abuso da informação e em mais um sem números de questões e casos - como os dos traficantes de drogas que ainda vivem em casa dos pais - fazem de Steven Levitt um verdadeiro prodigioso das novas correlações entre a sociedade, a economia e a política nesta 1ª década do III milénio.
Levitt vê minhocas, formigas, insectos onde todos só vêem paisagem, nesse sentido o seu trabalho de espistemologica articulado à teoria económica descobrindo a careca a muitos agentes económicos, é verdadeiramente entusiasmante, senão mesmo contagiante e incentivador de outros desenvolvimentos dentro do mesmo filão cognitivo. Ou seja, procurando descobrir novas correlações, novas causas e efeitos e, naturalmente, novas sínteses. Neste sentido é admirável o seu senso comum, tanto mais partindo de questões simples e ao mesmo tempo insólitas, e foi essa estranhesa que deu lugar a esse novo campo que ele cunhou de Freakonomics.
Mas, e agora vem a parte crítica, será que Levitt (não) leu os clássicos do pensamento sociológico!? Que referências ele espelha nesse domínio? É claro que fala em Keynes, em Schumpeter, em John Keneth Galbraith (falecido recentemente), mas da sociologia pura ou aplicada à política poucos alí estão, para não dizer mesmo nenhuns. E é aqui que "a porca torce o rabo". E porquê? Imaginemos que Levitt tivesse lido o engenheiro que também foi sociólogo - Vilfredo Pareto... teria descoberto um montão de coisas, de derivas, articulações, de hipóteses e de sistema intelectuais que enriqueceriam muito o seu estudo. Ou se calhar leu e omitiu cirurgicamente o homem, como faz muito "boa" gentinha... por esse mundo fora. Há anos até o famoso engenheiro de minas francês, e eminente analista político, Alain Minc fora acusado de plágio...
Pareto fala-nos das acções lógicas e de acções não-lógicas. Quando especuladores e engenheiros não se enganam comportam-se de modo lógico. O mesmo se diga do economista. Mas a sociologia tem por missão compreender os efeitos desatinados de uns e de outros quando aqueles se enganam. Quando o especulador se suicida porque o valor das suas acções caíu, ou a situação do engenheiro da ponte Entre-os-rios cujos resultado lamentavelmente conhecemos. No entanto, quer o especulador, quer o engenheiro quando compraram acções ou conceberam pontes fizeram-no tendo em vista um fim a atingir: um fim lógico.
Se eles tiverem sucesso dizemos que houve uma ligação entre os meios e os fins da relação efectiva no real. Ou seja, a ligação subjectiva correspondeu à ligação objectiva. Aqui as operações estiveram ligadas entre si. The big problem começa quando as coisas dão para o torto, i.é, quando o especulador se suicida e o engenheiro sai da ordem - ou ainda o ministro do sector se demite - quando, na verdade, deveria ter ficado até ao fim para apurar responsabilidades. Mas isto é outra "estória" e meter aqui o nome do sr. jorge coelho - que é um pindérico boçal da política lusa, seria até uma heresia. O que Pareto diria se visse o seu nome ao lado de gente dessa, dos organizadores da palmaria para efeitos comicieiros que é para que o sr. Coelho serve. Para isso e para dizer baboseiras na circunferência do quadrado, porque quadrado é também o moderador - que nem a figura do moderador conhece.
Contudo, as acções que mais interessam têm para quem agora começa a estudar o Freakonomics (e o Marketeer500 está nesta onda, creio) reside na compreensão das acções não-lógicas, i.é, aquelas que subjectivamente não têm ligação lógica com as acções objectivas, logo quando a bota não bate com a perdigota. Os fins não são atingidos pelos meios investidos para o efeito. Aqui os meios não estão articulados com os fins, nem na realidade nem na consciência. É o caso daquele menino que nasceu em berço d'ouro e teve uma bela educação e aos 18 anos deu em ladrão de supermercado, de ourivesaria ou até de croquetes em pastelaria de 3ª depois de roubar todo o outro à avó. Aqui o acto não está ligado ao seu background, ninguém imaginaria que aquele rapaz terminasse a vida a gamar pastelinhos de bacalhau numa pastelaria de 3ª na Morais Soares, a caminho do Alto de S. João...
O mesmo se diga quando os cromos da metereologia dizem que para o day-after o Sol vai radiar rejubilando em nossas testas e depois apanhamos uma valente molha porque chuveu a potes. Lembram-se (!!??) de quando o Antímio de Azevedo aparecia com na RTP de antena na mão a interpretar o mapa dizendo sempre a mesma treta, dia após dia, durante décadas, e no dia a seguir a Mãe-Natureza dizia ao povo que o bom do Azevedo não passava dum aldabrão encartado..., porque chovia...
Enfim, o tempo passa e, hoje, a sic mete umas gajas a despirem-se por completo, mostrando o pi-pi e tudo, e daí também não vem melhor acerto em matéria de tempo ou de clima... O facto é conhecido e a menina que se descascava com a anuência do sr. balsemão - que ensina comunicação social numa universidade qualquer, e depois fazia pornografia meterologica em directo a partir do seu canal para assim matar a concorrência e ganhar mais share e receita de Pub. à custa dos grelos alheios. Enfim, uma vergonha. Mas quem lembra isto ao sr. bolsanamão!?
Outros exemplos de acções não lógicas que o sr. Levitt desconhece em absoluto. E porquê?! não leu os clássicos da sociologia moderna e contemporânea, ficou-se pelos economistas, o que fez dele um economista mais limitado apesar de ter sido considerado brilhante. Pelo Macroscópio não é seguramente.
Quem diria que um maoista na década de 70 se tranformaria num empedernido neoliberal - ainda por cima presidente da Comissão Europeia - três décadas depois? Quem diria que Santana - o agitador de congressos - l'enfant terrible - viria a ser PM de Portugal??? nestes casos não existe relação objectiva entre o comportamento e os seus resultados. E é esta discrepância entre a subjectividade do actor e a objectividade do resultado a que se chegou que a sociologia estuda e, de certo modo, está na origem de muitas das correlações de Steven Levitt quando encontra o lado escondido das coisas. Não foi Levitt que foi genial, nós é que fomos parvos...
E mais parvos somos ainda quando homens como barroso, santana - tudo farinha do mesmo saco - mereceram o agreement do povo que os apoiou (e do atávico ex-PR) para fazerem a triste figura que fizeram. Pelo país e pela Europa. Diria que hoje o estudo da política, porque está cheia de gente desta, oportunista e sem valor que se arrasta nos partidos para se servirem deles mediante actos de corrupção e de tráfico de influência (em negociatas à a. Preto que ainda goza da cumplicidade daquele quer vir a ser PM de Portugal) - se deve centrar no estudo das acçoes não-lógicas, imprevisíveis - porque são essas precisamente que servem os seus interesses pessoais, materiais e de status. O resto fica para o Direito...
Em rigor, a história daquele marinheiro que dirige as suas orações a Poseidon antes de se fazer ao mar não realiza um acto que exerça qualquer influência sobre a sua navegação, mas imagina, em função das suas crenças, que esse gesto poderá ter consequências em conformidade com os seus desejos. Nós aqui nem sequer conseguimos imaginar o que barroso terá feito para saltar para a Bruxelas, mas não nos custa adivinhar que a marosca começou logo na Cimeira dos Açores... E hoje o mundo está mais seguro??? Não está.
E tudo isto é importante porquê? Por uma razão simples: é que o estudo das acções não-lógicas exige do sociólogo, do politólogo, do economista de qualquer tipo com dois dedos de testa e que tenha lido alguns clássicos - que não é o caso de Levitt (que tem cultura de supermecado Walmart) - o estudo e compreensão da verdadeira e profunda motivação pelo sentimento, sendo este definido de maneira geral e concreta como qualquer estado de espírito diferente do raciocínio lógico.
Ou melhor, o objectivo hoje de qualquer cientista social é o estudo lógico das acções não-lógicas - de que o exemplo mais lamentável (e até antipatriótico e lesivo para a economia nacional) foi levado a cabo pelo "transmontano de Bruxelas" - também cognominado pelo sr. "fujão".
Talvez estas derivas de lana-caprina coloquem algumas reservas aos estudiosos recentes de Steven Levitt que ora tiveram com ele o 1º rendez-Vous - esquecendo-se que antes dele já muito boa gente descobriu a pólvora. Há apenas quem a actualize, e ainda bem que assim é, senão a vida seria uma repetição insuportável...

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