domingo

Amuos de perdedores - por António Vitorino -

Os resultados das eleições presidenciais proporcionaram várias interpretações instantâneas, mas contêm sinais que exigem um aprofundamento ao longo dos próximos meses.dn
Subsistiu a regra da reeleição do Presidente em exercício à primeira volta. Por margem mais escassa que nos casos antecedentes e com um perfil eleitoral que evidencia uma limitada capacidade de captação de apoios no campo oposto, para além de uma perda líquida de votos em relação ao sufrágio antecedente. O que coloca o Presidente reeleito perante o mesmo desafio que tinha no início do seu primeiro mandato: o de comprovar que alguém, oriundo da área política do centro-direita, consegue assumir a função de Presidente de todos os portugueses.
Outros dados das eleições apresentam, contudo, aspectos novos que importa aprofundar.
Um aumento da abstenção, para limiares antes nunca verificados em eleições presidenciais, mesmo em situações de recandidatura de um Presidente em exercício. Uma apreciável expressão eleitoral de candidaturas essencialmente de protesto, desde Fernando Nobre até ao candidato Coelho. O apreciável número de eleitores que, tendo-se deslocado às urnas, optou por votar branco ou nulo.
Nestes sinais alguns quiseram ver indícios do esgotamento do sistema político português. Mas a verdade é que a soma destes factores não legitima uma leitura unificadora das razões que estiveram por detrás de tais escolhas.
O que não se pode deixar de registar é que nenhuma das candidaturas almejava uma evolução presidencialista do nosso sistema político, já que todas desenvolveram os seus propósitos dentro do actual quadro de poderes definido pela Constituição.
Contudo, a conjugação daqueles elementos mostra que existe um vasto sentimento de mal-estar na nossa democracia que só em parte pode ser imputado ao quadro dos concretos candidatos presidenciais que se apresentaram a sufrágio e ao teor das suas propostas aos eleitores.
Com efeito, para além do que é circunstancial, estes sinais evidenciam transformações na sociedade que se reflectem no espaço político.
Desde logo, um caldo de cultura individualista que esmorece os laços de solidariedade e os incentivos à participação nas decisões colectivas. O crescente sentimento de exterioridade em relação ao sistema político manifestou-se de várias formas e reforçou-se em virtude da situação de crise que o País atravessa. O receio de que este sentimento venha a alastrar deve estar no centro das preocupações dos agentes políticos e muito em especial dos partidos mais representativos.
Por outro lado, a ideia de que do ponto de vista sociológico a esquerda é maioritária em Portugal ficou posta em causa pela segunda vez consecutiva em eleições presidenciais.
Neste ponto, a questão que se coloca à esquerda ultrapassa em muito as fronteiras nacionais. Como explicar que o pico de uma crise internacional do sistema capitalista global corresponda ao período mais baixo dos resultados da esquerda na generalidade dos países europeus? E que esse fenómeno tanto afecte os partidos socialistas e social-democratas que têm alternado no exercício do poder como os partidos da esquerda mais radical que propugnam por rupturas profundas sem, contudo, conseguirem ir além da federação de protestos que a mais das vezes tem mesmo facilitado a ascensão das forças políticas conservadoras? A França, o Reino Unido, a Itália, a Suécia, a própria Alemanha chegam como exemplos, ou ainda querem mais?
Compreende-se que perante esta deriva haja sempre uns decerto bem-intencionados que apresentem a convergência das esquerdas (várias) como a resposta necessária. E que fiquem irritados quando alguém se limita a constatar que há plataformas de convergência da esquerda que em vez de somarem, subtraem apoios. A forma fácil de reagir é a de rotular de sectário ou preconceituoso quem constata um facto tão evidente.
Mais difícil é reconhecer que a questão da convergência das esquerdas como resposta ao galopante avanço da direita depende sobretudo dos valores que sejam o eixo central dessa convergência e das políticas deles decorrentes em termos de possível respaldo popular. Na busca desses valores e dessas políticas nada ajudam os amuos de perdedores.
Obs: De facto, as coisas começaram muito mal no seio da estrutura dirigente do PS por referência ao apoio espartilhado ao poeta Alegre. Como este era um candidato bipolar, o PS acabou por ficar refém dessa limitação, o que acabou, agravado pelo crescimento da abstenção, por favorecer o candidado de Boliqueime - que, uma vez sufragado, denunciou todo o seu fel e rancor sobre os portugueses. Infelizmente, AV tem razão, o mal-estar está a generalizar-se na sociedade portuguesa, um mal-estar que poderia ter sido minorado no quadro destas presidenciais, mas essa foi uma possibilidade dramáticamente perdida por incapacidade e incompetência política. E hoje, creio, a volatilidade sociológica dos eleitorados corresponde à própria volatilidade dos mercados, e isso é trágico para a democracia portuguesa, com as consequências sociais e económicas, além do descrédito no plano internacional - que hoje também dita as condições em que operamos, sobretudo ao nível desses novos previsores do risco e do contingente que são as agências de rating, que tantas vezes se enganam, sem que daí decorra algum tipo de accountability.

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quinta-feira

Morreu o sociólogo Daniel Bell

O sociólogo Daniel Bell, autor de “O Fim da Ideologia” e professor emérito da Universidade de Harvard, morreu na terça-feira aos 91 anos na sua casa em Cambridge, segundo a Associated Press.
Filho de judeus imigrantes, Daniel Bell cresceu numa zona pobre de Nova Iorque. Na juventude, leu Marx e Stuart Mill e aderiu à Liga dos Jovens Socialistas. Afastou-se da ideologia marxista e tornou-se, como ele próprio se definia, “liberal na política, socialista na economia e conservador na cultura”.
Bell começou por ser jornalista, tendo sido editor do setor laboral da revista Fortune de 1948 a 1958, e cofundador de The Public Interest Magazine, em 1965. Foi professor na Universidade de Chicago e na Universidade de Harvard.
Os trabalhos mais conhecidos do sociólogo são “O Fim da Ideologia”, sobre a era pós-marxista e pós-conservadora, e “O Advento da Sociedade Pós-Industrial” no qual prevê a transição de uma economia baseada na manufatura para uma baseada na tecnologia.
Segundo a AP, o autor é um dos responsáveis pelo conceito sociológico de “pós-industrial”.
Obs: Tal como Aron, embora considere a obra deste mais fecunda, abrangente e pragmática, D. Bell também foi um jornalista e um schollar de excepção e teve o mérito de rasgar um caminho novo em termos de linha de investigação através do "declínio das ideologias", como que a preparar o caminho que sobreveio no pós-guerra no campo das Relações Internacionais e no quadro das CSH em geral, com especial relevância para a Sociologia política que após 1950 reganhou novo ímpeto, calibrado por dois factos: 1) quer pelo desenvolvimento económico e comando tecnológico do Ocidente - com os EUA à cabeça; 2) quer pelo crescente poderio da então ex-URSS - cujo chamado degelo nas RI espelhou bem a desilusão vertida na "Paz pelo Terror" e no equilíbrio de impotência que depois dinamizou toda uma doutrina de Armamentos & Controle de Armamentos (arms race, desenvolvida depois por Henry Albert Kissinger e outros) que culminou na Mutual Assured Destruction (MAD) que o velhinho Raymond Aron majistralmente doutrinou - seja no seu trabalho maior, Paix et Guerre entre les nations - seja numa obra pouco lembrada - Le Grand Débat. Initiation à la stratégie atomique - que me foi dada num curso de RI por um diplomata altamente preparado nestas questões, LBS, que hoje recordo, apesar de andar a fazer a cabeça ao ministro mal Amado. Muito mais haveria a dizer de Bell, e di-lo-emos, certamente.

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quarta-feira

O poderoso Karl Frierson - Ten Minutes e Only You

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Partilha dos prejuízos entre PS e BE no pós-presidenciais

Quando Diogo Freitas do Amaral perdeu as eleições presidenciais para Mário Soares, por uma unha negra, o PSD retirou logo o apoio a Freitas e mandou-o trabalhar para pagar os custos da campanha eleitoral, o que Freitas fez durante anos, segundo afirmou, fazendo uns pareceres e o habitual trabalho de jurisconsulto e de docente. Hoje, após a derrota esmagadora do candidato poeta Alegre, esquizofrénicamente apoiado pelo PS e, primacialmente, pelo BE, este cenário da divisão dos prejuízos de campanha coloca-se na mesma. Já que as subvenções do Estado, atendendo ao respectivo score eleitoral, não chegam para cobrir a parada gasta em logística e em material de campanha.
É, pois, neste quadro de emergência e de esquizofrenia política que o congresso extraordinário do PS é agendado para Abril. E aí, talvez só as moscas consigam perceber a peixeirada que será na formulação dessa contabilidade criativa - com o PS a empurrar com a barriga para a frente essa despesa e o BE, por seu turno, a dizer que, afinal, o poeta até é filiado no PS, apesar de ter andado de braço dado com Louçã durante dois anos a fio em manifestação contra as políticas públicas (laborais e outras) do Governo cujo líder é, por acaso, PM, secretário-geral do PS e seu apoiante neste acto eleitoral.
Houve quem avisasse 3 milhões de vezes que Alegre era um divisor no seio do PS, mas a facção mais esquerdizante do partido, com António costa a servir de charneira dessa irracionalidade política, empurrando Sócrates para um beco, canalizou o PS para a desgraça com os resultados humilhantes que se conhecem.
E agora ambos terão de pagar a factura, veremos em que termos. Será também para isso que servirá o agendado congresso, ainda com local indeterminado.

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terça-feira

Secretariado Nacional do PS propõe congresso ordinário

Secretariado Nacional do PS propõe congresso ordinário, tsf
O secretariado nacional do PS propõe a marcação de um congresso ordinário para os dias 8, 9 e 10 de Abril. Ainda não se sabe o local do congresso.
A reunião magna dos socialistas vai assim realizar-se um mês depois da posse de Cavaco Silva para o segundo mandato como Presidente da República.
Obs: A esmagadora vitória, ou derrota do poeta Alegre (ante um cavaco que teve mais do dobro dos seus votos), que se sabia antecipadamente ser um perdedor-nato, porque sem o perfil e as qualidades e competências pessoais e políticas para o efeito, tende a antecipar este congresso. É normal que assim seja.
O que é anormal, é António costa, um politico experimentado e membro do PS desde que nasceu, ter apostado num mau candidato, ter depois arrastado o PM para esse beco, e ainda não ter percebido que ele é, em boa medida, o grande responsável por esse desire eleitoral, senão mesmo humilhação, mais até do PS do que própriamente do candidato Alegre - a quem nunca ninguém levou a sério.
De resto, como é que A.costa poderia ter apoiado um candidato apoiado primacialmente por um partido, o BE, a quem ele, Costa, disse "querer partir a espinha política" num congresso do PS (Espinho, creio), em 2009?!
De facto, não se compreende esta decisão num quadro de normalidade. Será das companhias!!

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Quinze milhões de euros ganhos no Euromilhões congelados

Euromilhões: 15 milhões vão a recurso
Vão continuar congelados, à ordem do tribunal, os 15 milhões de euros ganhos num prémio de Euromilhões, em 2007, por Luís e Cristina, o ex-casal de namorados de Barcelos que se desentendeu quanto à divisão do prémio. (...) cm

Obs: Este também é um retrato da psicologia colectiva do tuga, que quer ter sempre mais do que as suas verdadeiras necessidades, animado pela ganância, gula e soberba. Enfim, um "casal perfeito" à moda do Portugal contemporâneo.

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sexta-feira

Cavaco Silva vence logo à primeira volta

APESAR DO ACTUAL PR SER O FAVORITO AO "TRONO", E DE TER FEITO UM MAU MANDATO, PORQUE PARCIAL, SECTÁRIO FAVORECENDO AMIGOS POLÍTICOS EM DETRIMENTO DOUTROS ACTORES POLÍTICOS, AINDA INCORREU NUM CRIME GRAVE POR TER ENVOLVIDO O SEU ASSESSOR DE IMPRENSA, FERNANDO lima, NUMA TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO CONSTITUCIONAL COM A INVENTONA DAS FAMOSAS "ESCUTAS" DE S. BENTO A BELÉM. SÓ POR ESTA RAZÃO, CAVACO DEVERIA TER RENUNCIADO AO CARGO - OU, EM ALTERNATIVA, TER SIDO DEPOSTO PELA AR.
NESTE QUADRO SÓ VEJO UMA POSSIBILIDADE DIGNA DE SAIR DESTE IMPASSE: VOTAR NO MAL MENOR, E ESTE RESIDE NO CANDIDATO MAIS INDEPENDENTE, MAIS SOLIDÁRIO, MAIS JUSTO E COM UM CV MAIS ORIENTADO PARA AS GRANDES CAUSAS HUMANAS NESTA DOBRA DO III MILÉNIO.
ESTE MAL MENOR TEM NOME: FERNANDO NOBRE.
Cavaco Silva 59%, Manuel Alegre 22%, Fernando Nobre 10%, Francisco Lopes 6%, José Manuel Coelho 2% e Defensor Moura 1%, são os resultados da sondagem da Universidade Católica.dn
Dados do estudo da Universidade Católica dizem que o actual Presidente da República será reeleito com uma percentagem superior às obtidas por Eanes e Sampaio nos segundos mandatos.
Não haverá segunda volta, de acordo com a sondagem feita, na semana passada, pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa (CESOP) para o DN, JN, RTP e Antena 1. Fazendo a projecção dos votos - além da abstenção, dos indecisos e dos que não respondem, foram retirados ainda os brancos e nulos para efeitos de cálculo -, Cavaco Silva atinge 59%, Manuel Alegre fica-se por 22%, Fernando Nobre garante 10%, Francisco Lopes obtém 6%, José Manuel Coelho chega aos 2% e Defensor Moura limita-se a 1%.
A confirmarem-se, no domingo, estes resultados, Cavaco Silva seria reeleito por uma margem superior às registadas por Ramalho Eanes em 1980 (56,44%) e por Jorge Sampaio em 2001 (55,55%) - ficando apenas longe de Mário Soares (70,35%), na recandidatura que ele próprio, enquanto líder do PSD e primeiro-ministro, apoiou.
Agora com o suporte de PS, BE e PCTP/MRPP - partidos que, em conjunto, obtiveram 47,3% nas legislativas de 2009 -, Manuel Alegre crescia apenas um ponto percentual em relação à última corrida, quando se apresentou sem apoios partidários e obteve 20,74%. Em relação aos derrotados nas recandidaturas anteriores, a diferença negativa para Ferreira do Amaral, que teve 34,68% contra Sampaio, é superior à diferença positiva relativamente a Basílio Horta, que se ficou pelos 14,16% no confronto com Mário Soares.
E o resultado de Fernando Nobre, na história das candidaturas independentes, ficaria apenas à frente de Pires Veloso (0,78%, em 1980), Galvão de Melo (0,84%, em 1980), Otelo (1,5%, em 1980) e Lurdes Pintasilgo (7,38 %, em 1986), mas a boa distância de Pinheiro de Azevedo (14,37%, em 1976), Otelo (16,46%, em 1976) e Manuel Alegre (20,74%, em 2005).
Obs: Faça-se todos os possíveis para obrigar cavaco a ir à 2ª volta, ainda que a vox grossa de Nobre não tenha o timbre de Obama, nos EUA, que também tem desiludido.

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terça-feira

A petró-soberania das arábias e a luta pela sobrevivência de Sócrates

Sócrates poderá ter muita formação política e partidária, e tem, até começou a sua carreira na JSD, mas tem escassa formação politológica e sociológica, e como é engenheiro de formação, dizem, e não tem muito tempo para ler, só deve conhecer o que sobre esse tema central da CP Jean Bodin escreveu no séc. XVI, nada mais. Isto faz com que todas as suas referências e correlações intelectuais sejam histórica e conceptualmente pobres.
Mas centremo-nos, primeiro, na questão semântica: é óbvio que o PM não se confessa em matéria de verdade política para não enfraquecer ainda mais a posição do Estado português em matéria de equilíbrio de finanças públicas, por isso desmente, ou relativisa a questão da venda da dívida pública (que está no mercado, diz ele, e está, mas mais cara!!) e centra-se nas demais questões, renovavéis e assuntos conexos.
Aqui ainda cabem alguns "actos falhados" do MNE, o ingénuo e monocórdico Luís Amado - que, apesar de já ter feito mais do que Freitas do Amaral, jamais terá o seu estatuto - dentro e fora do Governo. Portanto, Sócas foi aos "orientes" reclamar por IDE, e se conseguir vender dívida soberana, tanto melhor. Não sei onde reside o segredo ou o mistério do ponto e por que razão alguns jornalistas de boa formação socioeconómica, como José Gomes Ferreira da Sic, se mostram surpresos com este esconder com rabo de fora. É tão óbvio que nem valia a pena perguntar.
Isto até me evoca aquela estória da freira que às 3 da madrugada é chamada ao gabinete do bispo para esclarecer uma questão de gestão interna e de interpretação doutrinária. Ao que uma irmão lhe terá dito: "vai lavadinha, não vá o bispo querer algo mais..."
Portanto, em matéria de gestão dos assuntos de Estado, Sócrates fez bem em manter a questão em regime secreto: se for bem sucedido, poderá anunciar urbi et orbi esse activo; se, ao invés, for mal sucedido, e a questão, entretanto, se tenha tornado pública, será esmagado pelo coro de críticas por parte dos partidos da oposição, especialmente em contexto eleitoral, e pela generalidade da sociedade civil, que já nem o pode ver pelo uso e abuso da carga fiscal com que cruxificou os portugueses.
É por isso que Sócas quer sigilo absoluto nestas negociações com os árabes. Porventura, o psd de Passos Coelho se fosse poder faria exactamente o mesmo em semelhantes circunstâncias, daí não entender o coro de protestos e de incompreensões em relação a esta matéria sensível. Apenas ignorância e falta de cultura histórica por parte dos jornalistas, e de alguns salta-pocinhas que pululam nas redes sociais, alguns até com falsas identidades, pode estar na origem desta aparente surpresa.
Em matéria de soberania, convém esclarecer que ela hoje já assumiu outras dimensões além do núcleo que lhe deu origem, teorizada por Bodin no séc. XVI. Ela comporta uma dimensão de legalidade internacional, de soberania de Westphalia, de soberania interna e de interdependência - esta última componente tem sido intensificada com a nossa integração nos chamados grandes espaços, de que a adesão à então CEE (em 1986) foi um marco histórico.
Já se percebeu, há muito, que Sócrates está a tentar sobreviver neste mar revolto, em que o casco do barco já começou a meter água, os ventos são nocivos e os tripulantes, por vezes, falam de mais, como Luís Amado. Mas nesta aproximação aos árabes, donos de petróleo e de gas natural, quero crer que Sócas, estará a exercitar duas daquelas 4 componentes da soberania: a soberania doméstica e a interdependência.
Ou seja, os resultados das políticas públicas internas em Portugal serão aquilo que Sócas conseguir angariar em matéria de Investimentos Estrangeiro Directo para Portugal. Se for bem sucedido nessa captação de IDE, ele estará em melhores condições de passar a regular os fluxos de informação política, económica e financeira dentro e fora de Portugal, especialmente ao nível europeu, ficando, assim, também menos dependente da Alemanha de Merkel ou da França de Sarkosy, bem como dos ameaços da entrada do FMI no burgo e da activação do FE da UE, e é na libertação desse "sequestro" temporário da velhina soberania de Bodin (por referência à claudicante economia nacional) - que o PM estará a dar tudo por tudo, seja por Portugal, seja pela manutenção do seu próprio futuro político que está, obviamente, ameaçado.
Não deixa de ser curioso, que sejam os chineses e, doravante, os árabes, aqueles que virão em socorro duma das mais velhas potências do Velho Continente, e uma das primeiras nações a zarpar para África, e aí fazer colónias, e o último império a cair marcando, com isso, também o fim do chamado Euromundo e da Era gâmica que teve início com a gesta dos Descobrimentos.

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domingo

Sector agrícola português perdeu meio milhão de hectares no espaço de dez anos

A agricultura portuguesa conheceu, nos últimos dez anos, um claro processo de ajustamento estrutural, com a área média das explorações a aumentar 2,5 hectares, o que potencialmente as torna mais competitivas. Mas, no mesmo período de tempo, o território dedicado à prática agrícola recuou em quase meio milhão de hectares, o que não deixa de ser preocupante, dada a forte dependência externa de Portugal em produtos alimentares.Público
Os dados preliminares do Recenseamento Agrícola de 2009 (o censo realiza-se de dez em dez anos, como o da população), recentemente disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), mostram que a área ocupada pela produção agrícola em Portugal correspondia a cerca de 50 por cento da superfície territorial do país - 4,6 milhões de hectares. Este valor representa um recuo de meio milhão de hectares, o equivalente a 20 mil albufeiras do Alqueva.
Em 2009, os recenseadores do INE apuraram a existência de 304 mil explorações agrícolas em Portugal. Este valor resulta do desaparecimento de 112 mil empresas, cerca de 25 por cento das existentes no estudo anterior (realizado em 1999). Conjugados os dois factores anteriores, conclui-se que a área média das explorações agrícolas aumentou 2,5 hectares, para 11,9 hectares, o que garante economias de escala e torna a produção mais competitiva.
Mesmo assim, o sector continua a evidenciar imensos contrastes. Por exemplo, o facto de três quartos das explorações agrícolas portuguesas terem uma dimensão média abaixo dos cinco hectares, enquanto "um reduzido número de explorações (cerca de 260), com mais de 1000 hectares, exploravam, em 2009, 12 por cento do total da superfície agrícola.
Família predomina
O INE assinala que, apesar das mudanças na paisagem agrícola portuguesa, 80 por cento do volume de trabalho realizado no sector continua a depender da mão-de-obra familiar, reforçando assim a permanência do retrato do agricultor típico como factor dominante. No entanto, as explorações que já funcionam como empresas devidamente estruturadas, apesar de serem apenas 2 por cento do total, cobrem uma área que representa 25 por cento da superfície agrícola portuguesa.
No espaço de dez anos, o panorama agrícola português conheceu uma evolução sensível. O INE assinala uma redução significativa das terras aráveis e o aumento das pastagens permanentes, em termos relativos e absolutos.
Os principais recuos evidenciados pelo censo encontram-se nas culturas industriais (beterraba e tomate, por exemplo), na batata e nos cereais. Também na fruticultura se verifica uma redução (25 por cento) da área para a produção de frutos frescos tradicionais, enquanto sobe (17 por cento) a que é dedica aos frutos sub tropicais, com o kiwi na liderança clara deste incremento. A mudança do quadro de ajudas à produção, no âmbito da Política Agrícola Comum, será uma das explicações para esta evolução. Ao mesmo tempo, verificam-se aumentos na utilização de área agrícola para culturas forrageiras, hortícolas, flores e plantas ornamentais.
Do lado da prática animal, os resultados preliminares do censo agrícola mostram que Portugal tinha, em 2009, 5,8 cabeças de gado, menos 1,4 milhões do que dez anos antes. O definhamento do efectivo animal é de cerca de 20 por cento. O volume de bovinos em exploração manteve-se perto de 1,4 milhões de cabeças, salientando-se as perdas significativas ocorridas nos suínos e nos ovinos. Neste caso, a concorrência estrangeira, com explorações de muito maior dimensão, apresenta preços muito mais competitivos a que os produtores portugueses não conseguem responder.
Segundo os resultados do censo, o sector agrícola continuou a envelhecer em Portugal: a idade média do produtor aumentou quatro anos e cerca de metade dos agricultores têm mais de 65 anos. As mulheres são apenas um terço do universo profissional do sector.
A actividade continua a não ser totalmente recompensadora. Apenas seis por cento dos agricultores obtêm o seu rendimento exclusivamente da actividade e 64 por cento declararam, no censo, que recebem pensões e reformas.
Obs: Um quadro nacional preocupante que torna Portugal um país progressivamente dependente das importações alimentares, o que significa que também neste sector o país empobrece, e ao comprar no exterior aquilo que poderia produzir internamente, está a subsidiar as economias dos países importadores, fomentando aí o emprego, a riqueza e o bem-estar. Tudo isto num país com os solos e o clima que temos, é algo que está na fronteira dum crime de lesa-pátria.

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Bettencourt anuncia demissão

ATÉ O SPORTING MERECIA MELHOR DESTINO, EM VEZ DE ANDAR A APANHAR BOLAS.

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sexta-feira

Distúrbio Emocional Extremo: um mar de justificações. O Aviso do Diácono Remédios

Parece que a melhor teoria do Distúrbio Emocional Extremo começa a fazer carreira para tentar justificar e explicar aquilo que se passou na cabeça do autor do crime praticado em N.Y., que não tem bem a beleza de Paris - onde a coisa - a ser praticada - teria um significado mais romântico, mais próximo de nós.
Assim, existe o imenso Atlântico a separar-nos, dificilmente as cinzas demanam o rio Tejo, donde em tempos zarparam as caravelas feitas com a madeira do Pinhal de Leiria com que D.Dinis ajudou a conceber e a planear aquilo que depois foi a gesta dos Descobrimentos. Mas regressemos à vaca fria, no fundo à nossa "paneleirice analítica", a charla do momento, se me permitem.
Entonces, vamos todos admitir por obra e graça do Esprit du Saint de Paris, até porque a comunidade hetero é, de longe, superior à comunidade gay, so far, e não valerá a pena aqui tentar isolar essas variáveis porque elas são feitas automáticamente e de forma (in)consciente, que esse tal distúrbio emocional extremo - que é um estado emocional temporário definido como elevada desordem e perturbação, capaz de causar danos irreparáveis a terceiros, foi um state of mind presente na mente do autor do dito crime de ódio com um forte carga simbólica.
Nestes casos extremos, a manifestação do ódio de querer produzir danos não basta, urge mesmo cometer esses actos diabólicos animados de propósitos maliciosos.
A ter fundamento clínico, como parece ser provável, esta teoria explicativa do comportamento humano em condições verdadeiramente excepcionais pode, eventualmente, colher fundamento na aplicação do direito com vista a um mais favorável enquadramento jurídico do autor do crime que, assim, conhecerá uma pena mais leve que lhe permitirá regressar à vida activa mais cedo.
Naturalmente, haverá um júri que avaliará da plausibilidade deste state of mind, capaz de explicar os actos de agressão que conduziram à morte do soit-disant jornalista cor-de-rosa.
Contudo, o meu receio é que esta teoria emigre para a esfera política, e aí encontre o esteio natural para fazer carreira e inocentar inúmeros criminosos de colarinho branco que desfalcaram instituições bancárias, lavaram dinheiro em lavandarias de luxo, tomaram participação em negócio, compraram obras de arte com depósitos de clientes de par com um sem número de crimes que ainda nem têm codificação penal por serem tão vanguardistas.
Se assim for, veremos os "Oliveiras e Costas" deste Portugal banco-burocrático - multiplicado como cogumelos, a invocar o Distúrbio Emocional Extremo/DEE para, desse modo, se subtraírem às imposições da lei que, por vezes, até contempla a cadeia.
Voilá, o nosso admirável mundo novo que hoje todos vivemos e que nos ajudam, certamente, a esquecer as agruras da inflação com que somos "comidos" por trás, pela frente, pelos lados - desconhecendo já qual das formas será pior para ir para o outro mundo. Pois sempre ouvi dizer que as mortes-lentas são as piores...
Neste caso, os "saca-rolhas" utilizados contra os tugas são, manifestamente, a brutal carga fiscal com que alguém nos prendou. E nem sequer foi necessário ir a N.Y.

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Herman Enciclopedia diácono remédios O aviso

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Evocação de Camilo Castelo Branco

A amante que chora o amante que teve, na presença do amante que se lhe oferece, quer persuadir o segundo que é arrastada ao crime pela ingratidão do primeiro.
Tema: Amantes
Obs: Não sei por que gosto de Camilo: porque é um clássico dos bons, como Eça (que foi mais cosmopolita), porque compreendeu a fundo a natureza e condição (da miséria) humana, porque até o lia ao tempo do Liceu - em que também passeava os seus livros. E outras vezes fingia que lia. Enfim, saudades deste conjunto múltiplo de tempos, de vivências, de cheiros, de ilusões - que até me evoca o cheiro e as imagens de há 30 anos atrás. Com ou sem crimes passionais. Seria hoje interessante que Camilo regressasse ao nosso convívio e fosse para N.Y., the Big Apple colher inspiração para escrever o seu novo romance. Fica a promessa deste milagre.

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kings of convenience: uma revelação de excepção

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quinta-feira

A democracia dos cuidados intensivos e paliativos. A obsessão pelo poder

Jardim manda publicar lista candidata à comissão política do PSD-Madeira, iol O presidente do PSD-Madeira, Alberto João Jardim, que está internado no hospital do Funchal, mandou publicar a lista candidata à comissão política, que pretende apresentar na sua recandidatura à liderança do partido. (...)
Obs:
Após um enfarte do miocárdio o "democrata" que está alapado há 30 anos no poder no Gov Regional da Madeira, tem como principal preocupação mandar publicar uma lista candidata à CP do psd. Perante esta escala de preocupações, de interesses e de perspectiva de vida nada mais haverá a comentar acerca deste (OPL) "Objecto Político de Luxo" - que tem silenciado toda a oposição através de subsídios a jornais que telecontrola, adjudicação de obras públicas (só possível a empresas e a empreiteiros que paguem o "dízimo" ao seu partido) e doutros mecanismos e expedientes verdadeiramente lamentáveis e à margem dos mecanismos de democracia pluralista e do Estado de direito que o Portugal insular também deveria saber respeitar.
De facto, o sr. Alberto não faz nenhuma falta à democracia em Portugal, a sua presença tem apenas dois objectivos: produzir um humor decadente por altura do carnaval, e fazer a vida negra aos madeirenses que não são afilhados do dito na bela ilha da Madeira - que o pequeno autocrata trata como se fosse uma extensão do seu quintal.

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Medite-se neste imenso job for the boys, boys for all parties

Imagem picada no rizoma.
CGD já deu emprego 23 ex-ministros e secretários de Estado
DD
Banco detido totalmente pelo Estado, a Caixa Geral de Depósitos já deu emprego a 23 antigos ministros e secretários de Estado, depois destes terem cessado funções governamentais. A notícia é avançada na edição desta quinta-feira do jornal Diário de Notícias, que, no entanto, recorda que este não é um «privilégio» exclusivo do banco estatal – também a PT, EDP e Galp, empresas com participações do Estado, já receberam ex-governantes.
A conclusão surge no seguimento de uma longa investigação sobre o estado do Estado que o DN tem vindo a publicar nos últimos dias, com a edição de hoje a deixar a certeza de que ser um antigo ministro é mesmo a melhor profissão.
Para estes ex-governantes, assim como para antigos chefes de gabinete, assessores e secretários de Estado, as empresas do Estado ou com fortes participações estatais acabam funcionando como prateleiras douradas quando a «comissão de serviço» no Governo termina, ainda que a grande maioria não tenha sequer grandes conhecimentos sobre as áreas para onde transita. O que, por outro lado, não impede que passem a ganhar mais do que auferiam nos ministérios.
De acordo com o DN, a grande maioria passa a auferir mesmo de vencimentos mais altos do que o primeiro-ministro, podendo mesmo chegar aos 20 mil euros/mês, mais direito a carros de serviço, telemóvel e cartão de crédito.
Obs: Este é o estado do Estado a que chegámos. E o mais grave, é que este uso e abuso altamente corruptor por parte dos agentes e principais decisores do aparelho de Estado, não é um método exclusivo do PS, foi também a metodologia sistemática aplicada pelo PSD quando era poder.
O cavaquismo inundou o Estado de boys, intensificou e alargou a orgânica do Estado - criando e multiplicando inúmeros institutos públicos, hoje os principais sorvedouros do dinheiro dos contribuintes. Cavaco, no fundo, esse arauto da boa gestão do aparelho de Estado, foi, na prática, o pai do "monstro" que acabou por criticar, por ironia do destino.
Confesso que não vejo forma de alterar este esbulho vioneto ao Estado (que somos nós, os contribuintes) - que parece utilizadar as empresas públicas para proporcionar lugares a amigos e correlegionários, muitos dos quais não têm no seu cv competências e skills para o desempenho dessas funções de topo na gestão e administração de empresas públicas e doutras empresas participadas pelo Estado.
A consequência lógica desta corrupção simultaneamente política, moral e ética é, obviamente, a secundarização do interesse público em benefício do interesse organizado dos amigos do poder, que secam o Estado de recursos e de estratégias de reforma e dinamização impedindo a vitalidade empresarial e social no país, qualquer que ele (esquerda ou direita), preterindo, desse modo, o tão proclamado interesse geral do bem comum que falava Aristóteles.
Numa palavra: é lamentável este estado de coisas, especialmente numa conjuntura quase recessiva, com enormes problemas económicos e sociais também resultantes da gestão de empresas, como a EDP - que tem um grande balanço na sua contabilidade pública, mas junto do consumidor pratica os mais elevados preços de energia da Europa; idem aspas para as "Galpes" deste nosso descontentamento luso...
O que só atrofia a dinamização das actividades dos agentes económicos e sociais em Portugal.

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quarta-feira

Em cada homem há um potencial assassino. Crime na Big Apple

A destrutividade humana é um tema que cruza a atenção de várias ciências sociais e humanas. E entre todos os seres vivos, o homem parece ser o único que destrói por destruir, i.é, como um fim em si. Já Freud atribui essa destrutividade humana à tal pulsão de morte inata e a tendências necrófilas resultantes de fixações de pendor sexual de tipo edipiano, e nisto Freud foi, talvez, demasiado redutor, pois esqueceu factores de ordem cultural. Mas o ponto que pretendo sublinhar, até por referência ao crime de costumes (e de ódio!!) cometido em N.Y., que envolveu dois portugueses que neste momento estão dando mau nome ao país, o que também baixa o rating da República, é que essa destrutividade tem origem na traição que o Homem cometeu contra si próprio, de modo a obter uma quota-parte de um poder que, afinal, não passa de alucinação. Mas no caso vertente, pelos factos que se conhecem, arrisco-me a dizer que se trata dum "fado" em que cada um um colaborou conscientemente, na sua própria submissão - (em que um queria ver saciados taras de gay empedernido, o outro desejava dinheiro, ascenção meteórica ao mundo da fama através da moda, refém da sua pópria gula). E foi nesta mola que um dos actores começou a desenvolver um ódio vitalício a si próprio. O aspecto terrível neste processo, é que só a destruição ainda faz com que uma pessoa se possa sentir viva. Ou, como diria o "outro", essa libertação só poderia ser atingida mediante a castração. Este bater no fundo, porque já não se aguentava mais viver com a perda dos valores humanos em que se foi educado, pode conduzir ao assassínio. O problema, é que agora há uma moldura penal dura por cumprir, a do Tio Sam, o que significa o regresso à realidade, à prisão. Na prática, essa libertação culmina no aprisionamento de nós próprios. No fundo, o homem nunca está satisfeito, e tirar a vida a um velho decadente e com taras nunca foi um gesto digno de qualquer louvor.
Antecâmara: Para descongestionar o cérebro desta loucura empedernida dos novos tempos em terras de Tio Sam.
Straight To Number One - Touch And Go

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segunda-feira

Um filme perturbador: François Ozon's 5x2 & Paolo Conte 's ''Sparring Partner''

Trata-se dum filme perturbador, do início ao fim. Desfaz a ideia feita segundo a qual os casamentos se destroem por causa das rotinas diárias. O realizador, ao invés desse lugar comum, procura centrar-se nas verdadeiras diferenças e divergências entre as pessoas. Cinco vezes dois, por causa dos cinco momentos daquela narratia, desenvolvida com mestria na arte de contar que apanha uma mulher de personalidade forte, e um homem desiludido com a vida, que tem comportamentos irracionais e até mesmo absurdos. O filme começa com duas cenas tão contrastantes quanto perturbadoras: a formalização do divórcio, seguido dum regresso aos lençóis da ex-vida conjugal. Daí em diante, todo o filme é perturbador, imprevisível e, em certo sentido, altamente metafísico, na medida em que nos obriga a equacionar toda a nossa estrutura de relacionamento humano, dentro e fora dessa velha nstituição que é o casamento. Enfim, um filme a ver com pinças e olhos clínicos.

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Uma sondagem que explica por que os governados estão mais afastados dos governantes

Imagem picada no rizoma
Sondagem CM/Aximage: Cavaco reeleito à primeira volta. CM
Se as eleições presidenciais fossem hoje Cavaco Silva seria reeleito com 57,1 por cento dos votos. Segundo uma sondagem CM/Aximage, o actual ocupante do Palácio de Belém conquista a intenção de votos não só à Direita mas também conquista votos na Esquerda.
Para além dos 58% de inquiridos que em 2009 deram o voto ao PSD e 33,2% do CDS que elegeriam Cavaco Silva há ainda 24,3% dos portugueses que são apoiantes da CDU e que votam agora no recandidato a Belém. No eleitorado PS, o actual Presidente da República consegue 35%, mais do que Manuel Alegre que é apoiado pelos socialistas e BE.
O candidato poeta surge em segundo lugar na intenção de voto dos portugueses com 20,8% dos inquiridos a admitirem votar em Manuel Alegre para a Presidência da República. Os bloquistas (36,7%) garantem uma maior base de apoio para a campanha do candidato do que o PS (27,5%).
Fernando Nobre consegue o terceiro lugar, com 8,7% das intenções de voto dos portugueses inquiridos, ficando à frente de candidatos com uma máquina partidária por trás, como é o caso de Francisco Lopes. O candidato apoiado pelo PCP não consegue inclusive bater o independente Defensor Moura (3,1%)
OPINIÃO DE JORGE DE SÁ
A actual campanha eleitoral irá constituir um caso futuro de estudo quanto à influência da comunicação política negativa no nosso país.
É comumente aceite na comunidade científica que a negatividade das campanhas conduz a um aumento da abstenção eleitoral e ao aumento de uma visão mais cínica da política, afastando os cidadãos dos assuntos públicos (Ansolabehere, e Iyengar, 1995).
Vários estudos demonstram que os recordes de abstenção, o cinismo e a maledicência com que muitos eleitores fustigam os políticos são consequências directas da comunicação política negativa, contribuindo para reforçar um sentimento de desilusão e de descrença em todo o sistema democrático.
O princípio em que se baseiam os defensores do recurso à comunicação política negativa assenta na crença de que o estímulo constituído por uma mensagem negativa pode despertar o eleitor mais facilmente do que uma mensagem positiva.
A razão dessa maior capacidade da comunicação negativa em “despertar” os cidadãos que seguem em “pilotagem automática” reside no que os psicólogos sociais designam por “vigilância automática”, esta em estreita associação com o facto das mensagens negativas serem portadoras de informações sobre acontecimentos que são apresentados como praticados apesar dos seus intervenientes saberem que eles deveriam ser evitados.
Numa aproximação psicanalítica, dir-se-ia que as mensagens negativas despertam muito mais rapidamente a acção do “super ego”, por se tratar de algo que nem sequer deveria ter acontecido por ser pessoal e/ou socialmente indesejável, pelo menos, no que diz respeito à sua exposição pública.
Bernard Manin (1997) justifica a generalização das campanhas de comunicação política negativa pela personalização da política nas nossas sociedades, que o autor designa por “democracia das audiências”, cujo início coloca algures na década de 70 do século passado.
Por exemplo, nas eleições para o Congresso norte-americano de 2000, o número de anúncios negativos ultrapassou os 150 mil, veiculados por 75 canais de televisão que cobrem cerca de 80% dos cidadãos norte-americanos (David Mark, 2007).
Joseph Napolitan, o mais velho consultor em comunicação política ainda vivo, fundador da American Association of Political Consultants, refere que um candidato que vá à frente nunca deverá usar comunicação negativa e que, de um modo geral quem não tiver que fazer campanha negativa, que não a faça.
Para além dos eventuais efeitos directos da comunicação política negativa sobre os eleitores, Sam Garret (2006) refere que há que ter em conta os efeitos indirectos que podem ser provocados por via de uma “rotura estratégica” na campanha adversária, ou seja, ao ser obrigado a defender-se, o candidato que sofreu o ataque perde o controlo da agenda, que passa a ser gerida de acordo com a iniciativa do adversário e não segundo o interesse do próprio candidato.
Contudo, os efeitos da comunicação política negativa não são uniformes, uma vez que se demonstra que tais efeitos são condicionados pela forma como o conteúdo é expresso, pela substância desse mesmo conteúdo negativo da comunicação, pelo tom usado na comunicação, pela fonte da mensagem e pelas características dos eleitores que recebem essas mensagens negativas.
No que diz respeito à campanha para as presidenciais os efeitos são já perceptíveis.
Comparando com sondagens anteriores verifica-se que a intenção de voto em Cavaco Silva desceu, situando-se agora abaixo dos 60%. Esta descida é mais marcada ente os potenciais eleitores de Cavaco que revelam uma maior propensão para a abstenção e entre os eleitores que votaram no PSD em 2009.
A associação entre a campanha negativa e a intenção de voto em Cavaco, que não pode, de per si, estabelecer-se como uma relação causal, revela uma maior descida da intenção de votar Cavaco (que, mesmo assim, será provavelmente eleito na primeira volta) em segmentos como os do litoral centro-sul, nos meios urbanos, abaixo dos 45 anos, nos profissionalmente activos, com destaque para os quadros e empregados, e nos que ultrapassaram a escolaridade obrigatória.
Como se lê na sondagem CM/Aximage, neste mês de Janeiro foi interrompida a subida contínua que a popularidade de Cavaco conhecia desde Julho, situando-se agora no patamar dos seus níveis mais baixos (13,1 em 20 valores).
Há uma pergunta que se coloca de imediato: a quem aproveita a descida de Cavaco?
Por o que se pode concluir das sondagens, essa descida não aproveita de forma clara aos demais concorrentes. Actualmente, nos segmentos que parecem mais sensíveis à campanha negativa verifica-se sobretudo um aumento da intenção de abstenção e da indecisão, o que poderá corresponder a uma fase de confusão nalguns eleitores de Cavaco, à qual se seguirá uma decisão eleitoral, primeiro de ir ou não votar e depois de manter ou alterar a intenção de voto inicial.
Não é, portanto, de estranhar o apelo de Cavaco à mobilização eleitoral dos seus potenciais apoiantes e a continuação da campanha negativa para os desmotivar e, eventualmente cativar, por parte dos demais concorrentes.
Obs:
Veremos se algumas destas importantes teorias da sociologia dos media encontram respaldo nos factos. Ou seja, veremos, em concreto, como é que o impacto negativo dessa mega-fraude de gestão danosa e criminosa do BPN afecta cavaco, porque na sua base estão e estiveram administradores do banco que, directa e indirectamente, foram os autores morais e materiais dos múltiplos crimes de colarinho branco praticados à sombra dessa nuvem negra que foi e é o chamado cavaquismo.

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ARTE segundo Freud

As afirmações de Freud sobre Arte, expostas no seu trabalho Introductory Lectures, partem da proposição de que o artista é um ser introvertido que, devido a impulsos instintivos excessivos, é incapaz de se adaptar às necessidades da realidade prática. Daí a necessidade de busca de compensação, que se volta para o mundo da representação, da fantasia, do sonho - encontrando aí um sucedâneo para a satisfação directa dos seus desejos. No fundo, a ideia de Freud, datada ou não (!!), reside na conversão das suas exigências não realísticas em propósitos que são realizáveis, pelo menos espiritualmente, através do que o "pai" da psicanálise designou de poder de sublimação.
Também aqui haverá prós e contras. Por um lado, salva o artista do castigo da sua vida diária, porventura, sem grande interesse; por outro, limita-o a um mundo fictício, de representações separado da realidade.
Seja como for, e relativizando as ideias de Freud, creio que o artista encontra um caminho de regresso à realidade através da arte, o que significa que essa mesma arte - não funcionará como uma prisão, mas antes como uma libertação, dando-lhe a flexibilidade de vida que ele jamais teria caso não arriscasse a sua vida nessa dimensão. Acabando por estreitar a distância entre a realidade e as representações que o artista faz dela.
Portanto, a criação artística será algo mais do que a mera redenção - explicada pelo simples caminho da fantasia para a obra de arte em busca da integração social. Sendo certo que aquilo que talvez melhor possa exprimir o artista é que ele cria um mundo de realização que é mais do que um domínio secreto do seu próprio espírito e nele os outros também podem participar e encontrar prazer.

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domingo

O eventual recurso ao FMI não pode deixar de ter consequências políticas

Esta é a última entrevista de fundo que Pedro Passos Coelho concede até ao fim da campanha presidencial em curso.
A partir de agora, só fará intervenções pontuais, e uma delas está marcada para Vila Real, ao lado de Cavaco Silva, num comício. dn
Percebe-se o cuidado. O presidente do PSD, que as sondagens vão insistentemente colocando como favorito a primeiro-ministro se umas eleições pudessem vir a ocorrer brevemente, está a gerir milimetricamente o discurso e não quer intrometer-se em demasia numa campanha que lhe não diz respeito. A estratégia é clara desde o primeiro dia e visa o poder executivo. Nesse âmbito, quer explicar como o PSD está preparado para assumir o poder, mas também quer deixar claro que não tem qualquer pressa. Ele e o seu partido estão aqui se os portugueses precisarem e se o Governo de José Sócrates falhar. Neste caso, "falhar" significa a entrada do FMI em Portugal. Nessa eventualidade, fica explícito que o PSD defenderá que o Governo tem de mudar, e num outro quadro parlamentar. Eleições, portanto.
Já disse que em 2011 o PSD tem de estar preparado para todas as eventualidades. Significa isso que está com pressa de chegar ao poder?
Nenhuma! A obrigação do PSD, como maior partido da oposição, é preparar-se para governar. É isso que o País espera que o principal partido da oposição faça. E o facto de há bastante tempo, infelizmente, o País estar confrontado com uma situação de grande dificuldade, apenas responsabiliza mais, também, essa função do principal partido da oposição. Nós estamos prontos para assumir responsabilidades se isso for necessário para o País, mas não temos pressa nenhuma.
Mas não se sente da parte do partido, face ao alento das sondagens, essa vontade de chegar rapidamente ao poder?
Não, não. Os partidos, como é natural, têm um programa e têm uma visão e um projecto para o País que só podem realizar de forma plena quando estão no Governo, e desse ponto de vista o objectivo dos partidos é ganharem as eleições e governarem, não é perderem as eleições e fazerem oposição. Mas o que aconteceu nas últimas eleições legislativas é que o PSD não ganhou as eleições, perdeu-as. Significa isso, portanto, que os seus militantes, os seus quadros políticos, estão empenhados em qualificar o PSD aos olhos dos portugueses, de modo que eles vejam no PSD uma alternativa de Governo. Essa alternativa acontecerá quando o País precisar dela.
Obs: Na verdade, PPCoelho sabe o seguinte: se o FMI regressar à economia portuguesa Sócrates pode conseguir inverter o ciclo económico, o crescimento do PIB começar a verificar-se, as PMEs gozarem de condições mais eficientes para crescerem e internacionalizarem-se criando mais riqueza, emprego e bem-estar.
Neste cenário, Sócrates teria condições políticas para concluir o seu mandato até 2013 e, eventualmente, estar bem posicionado para se abalançar a um 3º mandato no Executivo - o que seria uma proeza - que nem cavaco conseguira.
Neste cenário, o PSD de Passos Coelho ficaria mais uma eternidade na oposição, e em breve criar-se-íam as condições psicológicas de insatisfação política interna para que uma outra liderança emergisse na Lapa.
Daí Passos Coelho insistir nesse linkage, nesse grau de condicionalidade que pressupõe que a entrada do FMI implique um novo governo (o dele). Coelho pode não vir a ser grande PM, porque não revelou ideias alternativas, mas sabe que esta asserção tem fundamento, e não quer passar à história como aquele putativo PM que nunca o conseguir ser por causa do FMI.
Portanto, o FMI será, doravante, o seu cavalo de Tróia para fazer o assalto a S. Bento. Sócrates e o PS, com a narrativa difusa do poeta Alegre, tenderão a resistir à sua entrada. Mas a situação como está, com os juros astronómicos da dívida soberana, mata qualquer economia.
Estamos, pois, na bossa do camelo que se está a apertar cada vez mais...

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sábado

Evocação de Sandokan e de Emílio Salgari

Kabir Bedi - Sandokan SONG LIVE

Era um dos meus heróis de criança. Então imortalizávamos esses personagens (que confundíamos com os autores das peças) através dos famosos cromos - que serviam para a troca para qqr outra coisa: bilas, peões, uma gasosa...
São as memórias das maravilhosas aventuras de Sandokan - o "Tigre da Malásia". Hoje, Portugal precisa dum pirata deste calibre, e não dos pseudo-piratas que assaltaram o BPN, o BPP e conexos. Alguns desses pequenos piratas encontram-se refugiados em antigas colónias, por ironia da história. Tudo, afinal, serve para evocar o génio de Emílio Salgari - que conseguiu conceber o pirata mais carismático dos mares, que hoje daria imenso jeito, nem que fosse para resgatar às antigas colónias portuguesas piratas sem escrúpulos que actuaram sempre lesando os interesses dos mais fracos.
Até porque Salgari quando concebeu a peça quis que Sandokan fosse um tipo ao mesmo de aparência cruel, mas apaixonado e generoso, sempre disposto a ajudar os mais fracos no eterno conflito da história do poder que contrapunha as metrópoles europeias às colónias africanas, asiáticas e sul-americanas. No caso de Sandokan, batia-se pela defesa da ilha da Malásia - contra o império de Sua Majestade. Hoje ninguém pensaria ir a Cabo Verde dar um estalo e um puxão de orelhas a quem lá se entrincheirou, ainda que tenha de responder perante a justiça - que - alguém disse - tarda, mas não falha: E eu pergunto, o que é isso da justiça?! Confesso que gostaria de recuperar alguns desses cromos, o que implicaria fazer uma grande viagem no tempo - que o Senhor Tempo certamente não permite que se faça.

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sexta-feira

(evocação) Fernando Nogueira deve estar hoje muito aliviado...

Lembram-se de Fernando Nogueira, antigo Ministro da Presidência, da Justiça e da Defesa. Tudo no tempo hegemónico e de vacas gordas de cavaco silva (em que governar era fácil, (com dinheiro a rodos), que o preteriu num Congresso em 1995, creio, apoiando (indirectamente) o cherne Barroso, que em 2005 zarpou para Bruxelas deixando Portugal a arder nas mãos do incompetente santana lopes. Mas acima de tudo, Fernando Nogueira foi (e é) uma cabeça brilhante, serena, constante proveniente da escolha de Coimbra que ajudou o cavaco a construir o cavaquismo, no final foi cilindrado. Recorro aqui ao exemplo do imenso legado político de Fernando Nogueira para tentar demonstrar duas coisas: 1) cavaco trai os seus colabodores mais próximos e competentes, ou seja, não é de confiança, basta falar com Nogueira 5 segundos e perceber como ele cora como um tomate e muda de assunto à velocidade da luz; 2) Fernando Nogueira, ao assistir à imensa desbunda do BPN - que funciona como uma espécie de abraço (constritor) da serpente a cavaco, deve estar a dar gargalhadas múltiplas na poltrona do seu gabinete e a dizer para os seus botões.
Não tenho a mais pequena e leve dúvida de que Fernando estará a dizer para Nogueira: ganho 5 vezes mais do que como ministro, não sou escrutinado hora-a-hora pela lupa dos media, tenho tempo para a família e amigos e miro a política de longe, como quem vai a uma sala de espectáculos ver uma Ópera-bufa com os vários "silvas" - para retomar a terminologia do sr. Al berto da Madeira - a representar os papéis de bandidos institucionalizados jogando ao Monopólio com o dinheiro dos contribuintes.
Se alguma lição podemos extrair daqui é que Fernando Nogueira, ao invés do embuste que sempre foi o cavaquistão (que só se aguentou e cresceu à boleia dos Fundos Comunitários que jorravam então para Portugal) que sedimentou a natureza hipócrita de Durão (então delfim de cavaco), é que Nogueira era um senhor quando desempenhou funções governamentais na era cavaquista e, hoje, continua a ser um senhor fora da política.
Por isso, deve estar a dar valentes gargalhadas ao ver cavaco a ser cozido em lume brando no caldeirão do João Ratão desta miserável política à portuguesa..

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quinta-feira

São giras, mas mentem com todos os dentes: o affair BPP

Sabe-se que o BPN tem sido a arma de arremesso contra Cavaco, que, aliás, é o principal responsável por ter permitido que os seus amigos políticos tenham criado, desenvolvido e esbulhado o banco e depois desertado para parte incerta, cravando o Estado, ou seja, os contribuintes portugueses, a arcar com aquela desbunda que deveria ser criminalizada. Apenas Oliveira e costa, cabeça da serpente, se sacrificou em prisão de luxo. Era previsível que assim fosse em obediência à lei sociológica da Omertà. Ontem, alguém do cds entrou em cena para demonstrar a sua fidelidade canina a cavaco, mas fê-lo de forma verdadeiramente suja e falaciosa a propósito duma prosa que o poeta Alegre fez relativamente ao dinheiro depois aproveitada para Pub. institucional do banco de joão rendeiro do BPP, essa outra mega-fraude lesiva para centenas de clientes em Portugal.
Creio que o CDS teria algo mais para dar no quadro destas eleições presidenciais do que colocar uma boneca a dizer banalidades como, aliás, é seu timbre sempre que ocupa a esfera público-mediática. O cds tem quadros estruturados no seu grupo parlamentar, e escolher uma barbie para multiplicar absurdos é passar um atestado de idiotice, primeiramente ao líder do cds, depois ao seu grupo parlamentar, em 3º lugar - à própria vassalagem que o partido de Paulo portas deseja prestar a Belém.
Ora, isto é tão mau quanto a gestão opaca e comprometedora que cavaco tem feito na sua própria relação com a administração fraudulenta do BPN - que até tem uma boa rede de balcões e técnicos qualificados.

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O que nos espera em 2011? por Joseph Stiglitz -

Stiglitz
O que nos espera em 2011? Económico
Joseph E. Stiglitz
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Para Stiglitz 2011 volta a ser um ano de contestações sociais e greves gerais no continente europeu.
Algumas perspectivas do Prémio Nobel da Economia de Joseph Stiglitz para os Estados Unidos e a Europa este ano.
A economia global termina o ano de 2010 mais dividida do que estava no início do ano. Por um lado, os países dos mercados emergentes como a Índia, China e as economias do Sudeste Asiático estão a registar fortes crescimentos.
Por outro, a Europa e os Estados Unidos enfrentam a estagnação - aliás, uma maleita ao estilo japonês - e taxas de desemprego teimosamente elevadas. O problema nos países desenvolvidos não é uma retoma do emprego, mas uma retoma anémica - ou pior, a possibilidade de uma recessão intercalada por uma ligeira retoma.
Este mundo de duas faces coloca alguns riscos invulgares. Embora a produção económica asiática seja demasiado reduzida para suscitar crescimento no resto do mundo, poderá ser suficiente para fazer aumentar os preços das mercadorias.
Entretanto, os esforços norte-americanos para estimular a sua economia através da política da Reserva Federal de "agilização quantitativa" poderão sair gorados. No fundo, nos mercados financeiros globalizados, o dinheiro procura as melhores perspectivas em todo o mundo e essas perspectivas estão na Ásia, não estão nos EUA. Assim, o dinheiro não vai para onde é necessário e uma grande parte será canalizada para onde não é desejado - causando mais aumentos nos preços dos activos e das mercadorias, nomeadamente nos mercados emergentes.
Tendo em conta os elevados níveis de excesso de capacidade e desemprego na Europa e na América, é pouco provável que a agilização quantitativa possa despoletar um período de inflação. Em contrapartida, poderá aumentar a ansiedade em relação à inflação futura, gerando taxas de juro a longo prazo mais elevadas - precisamente o inverso do objectivo da Fed.
Este não é o único risco de recessão, ou mesmo o mais importante, que aflige a economia global. A maior ameaça provém da onda de medidas de austeridade que está a varrer o mundo, à medida que os governos, nomeadamente na Europa, tentam contrariar os elevados défices causados pela Grande Recessão e que a ansiedade em relação à capacidade de alguns países cumprirem o pagamento das suas dívidas contribui para a instabilidade dos mercados financeiros.
O resultado de uma consolidação orçamental prematura é tudo menos previsível: o crescimento vai abrandar, as receitas de impostos vão diminuir e a redução dos défices será um desapontamento. Além disso, no nosso mundo integrado globalmente, o abrandamento na Europa irá exacerbar o abrandamento nos EUA e vice-versa.
Visto os EUA serem capazes de se endividar com taxas de juros aos mais baixos níveis de sempre e com a promessa de elevadas rentabilidades sobre os investimentos públicos, após uma década de esquecimento, não existem dívidas sobre o que se deveria fazer. Um programa de investimento público em larga escala iria estimular o emprego no curto prazo e o crescimento no longo prazo, gerando no final uma redução da dívida nacional. Porém, os mercados financeiros demonstraram a sua miopia nos anos que precederam a crise, e estão novamente a demonstrá-la, ao pressionar cortes na despesa, mesmo que isso implique a redução perniciosa de investimentos públicos.
Além disso, o engarrafamento político irá garantir que poucas medidas serão tomadas para resolver os outros problemas graves que afectam a economia norte-americana: as execuções hipotecárias irão provavelmente manter-se (sem falar das complicações legais); as pequenas e médias empresas irão certamente continuar a mendigar fundos; e os bancos de pequena e média dimensão, que lhes concediam tradicionalmente crédito, vão continuar certamente a lutar para sobreviver.
Entretanto, na Europa, a situação não se afigura melhor. A Europa conseguiu finalmente socorrer a Grécia e a Irlanda. No decurso da crise, ambos eram governados por partidos de direita conotados com o capitalismo ou pior, demonstrando mais uma vez que a economia do Mercado livre não funcionou melhor na Europa do nos EUA.
Na Grécia, tal como nos EUA, um novo governo foi nomeado para resolver o problema. O governo irlandês, que encorajou os ousados empréstimos bancários e a criação de uma bolha imobiliária, não teve mais habilidade - o que não é de estranhar - para gerir a economia após a crise do que revelara antes.
Pondo de lado as questões políticas, as bolhas imobiliárias deixam no seu dealbar um legado de dívidas e excesso de capacidade no sector que não é fácil de rectificar - especialmente quando os bancos com relações políticas resistem à reestruturação de hipotecas.
Não considero que seja uma questão particularmente interessante tentar discernir as perspectivas para 2011: a resposta é sombria com pouco potencial de crescimento e muitos riscos de recessão. O mais importante é saber quanto tempo demorará a Europa e os EUA a recuperar, e se as economias asiáticas aparentemente dependentes das exportações irão continuar a crescer se os seus mercados históricos desvanecerem?
A minha melhor aposta é que estes países irão manter o seu rápido crescimento à medida que se virarem para os seus mercados internos vastos e inexplorados. Isto vai exigir uma reestruturação considerável das suas economias, mas a China e a Índia são dinâmicos e demonstraram a sua resistência à Grande Recessão.
Não sou tão optimista em relação à Europa e aos EUA. Em ambos os casos, o problema subjacente é uma insuficiência da procura agregada. A ironia disto é que existe simultaneamente excesso de capacidade e vastas necessidades por suprir - e políticas que poderiam restaurar o crescimento utilizando a primeira para suprir as segundas.
Tanto os EUA como a Europa devem, por exemplo, adaptar as suas economias para enfrentar os desafios do aquecimento global. Existem políticas exequíveis que poderiam funcionar com restrições orçamentais a longo prazo. O problema é a política: nos EUA, o Partido Republicano preferia ver o Presidente Barack Obama fracassar ao invés da economia ser bem sucedida. Na Europa, 27 países com interesses e perspectivas diferentes seguem caminhos diferentes, sem a dose necessária de solidariedade para compensar. Os pacotes de recuperação revelam, à luz destes factos, resultados impressionantes.
Na Europa e nos EUA, a ideologia do mercado livre, que permitiu o crescimento de bolhas de activos sem qualquer interferência - os mercados é que sabem, pelo que os governos não devem intervir -, deixa agora os legisladores de mãos atadas para procurarem conceber respostas eficazes à crise. Poderia pensar-se que a própria crise iria minar a confiança nesta ideologia, no entanto parece ter ressurgido para arrastar os governos no caminho da austeridade.
Se a política é o problema da Europa e dos EUA, somente a introdução de alterações políticas poderão restaurar o crescimento. Ou senão, podem esperar até o espectro do excesso de capacidade diminuir, os bens de capital se tornarem obsoletos e as forças restauradoras internas da economia fizerem gradualmente os seus truques de magia. Em qualquer dos casos, a vitória não está ao virar da esquina.
Com os governos de quase todos os países obrigados a implementar duras e impopulares medidas de austeridade nos orçamentos, 2011 volta a ser um ano de contestações sociais e greves gerais no continente europeu. No Reino Unido os estudantes protestam contra o aumento das propinas, na Irlanda registam-se manifestações pacíficas contra a austeridade orçamental, em França a situação continua explosiva, com o aumento da idade da reforma e a aproximação das presidenciais de 2012, em Itália a contestação centra-se no primeiro-ministro Sílvio Berlusconi e Espanha terminou o ano com o "estado de emergência" decretado contra uma greve sem pré-aviso dos controladores aéreos.
A expectativa do mercado é que a 2011 seja um ano positivo para as bolsas. Apesar desse optimismo, perspectivam-se ganhos moderados, entre 4% e 8% para os principais índices. Segundo uma sondagem feita pela agência Reuters junto de mais de 50 casas de investimento, os principais índices mundiais deverão registar valorizações este ano. No entanto, a bolsa nacional verá a situação das finanças públicas do Estado a condicionar o seu desempenho. O segredo de 2011 estará nos mercados emergentes. As perspectivas positivas para as bolsas mundiais com o crescimento económico mundial, deve superar os 4% à custa dos mercados emergentes e das medidas agressivas adoptadas nos EUA". Os analistas estimam um S&P acima dos 10%, para o intervalo 1350-1.400 pontos e uma variação da mesma amplitude para os maiores mercados europeus . Apesar de estimarem ganhos os analistas estão cautelosos com os próximos actos da crise de dívida soberana. A aversão ao risco, relacionado com a dívida soberana de alguns países, podem aumentar as incertezas quanto aos resultados trimestrais das empresas e dos ritmos de crescimento económico de cada país.
Joseph Stiglitz, Professor Universitário na Universidade de Columbia e Prémio Nobel da Economia
Obs: Divulgue-se pelo interesse geral e sustentado o artigo de Stiglitz.

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quarta-feira

Durão Barroso e a dicccccccção...

... É sempre muito british, ao invés do espanhóis ou brasileiros que quando falam a língua de W. Shakespeare, fica-se sempre com a sensação de que estão a arranhar ou a meter mudanças na caixa de velocidade de um automovel sem carregar na embraiagem. Eis a razão que me leva a supor que o regresso de Durão a Portugal, quando cessar o seu 2º mandato, não irá presidir à Santa Casa da Misericórdia, mas, provavelmente, abrirá uma escola de línguas concorrente da Cambridge school. A ser assim, perdeu-se um PM que, em rigor, nunca foi grande coisa, ganha-se uma escola de línguas. Com sorte ainda se criam dois ou três postos de trabalho na economia nacional. O saldo é positivo.

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Restos do cavaquismo vertidos nos Outdoors que ele nunca quis

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Ex-dirigentes do BPN integram comissão de honra de Cavaco

Nota prévia:

Esta Comissão de Inquérito servirá tanto para apurar a verdade dos factos como as sucessivas comissões de inquérito para apurar o que verdadeiramente se passou em Camarate, em 1980, cujo acidente (ou crime!?) vitimou o então PM, Sá Carneiro, o MDF, Adelino Amaroda Costa e outras pessoas. Se há valor que em Portugal deve ser completamente desvalorizado são as condições em que se desenvolvem processos de justiça altamente politizados. De resto, a inclusão de certas personalidades influentes em processos políticos (como são as eleições, em que todos os players dão tudo por tudo) dos mais diversos quadrantes(finança, política, empresariado, etc) é, precisamente, para obstaculizar a realização plena da justiça, ocultando provas que possam prejudicar a ascenção ao poder.

Neste contexto, pergunta-se: para quê, então, reeditar Camarate através do BPN (em que se sabe que cavaco especulou à margem dos mecanismos bolsistas e ganhou muito dinheiro com isso)?!

Nada de mais se descobrirá, a não ser do que confirmar o humor negro de Oliveira e Costa que funcionalizou a sua lei da Omertà que aqui tratámos recentemente.(link)

Público
A nacionalização do banco justificou a criação de uma comissão de inquérito à supervisão e nacionalização do BPN, o que não foi alheio ao facto de a sua falência ter tido repercussões na esfera política. A instituição possuía nos seus órgãos sociais ou na estrutura accionista dirigentes políticos do PSD no activo, sendo os mais emblemáticos Dias Loureiro, nomeado por Cavaco para o Conselho de Estado, e os ex-ministros Arlindo Carvalho, Daniel Sanches e Rui Machete. E clientes como Duarte Lima. Também Cavaco Silva, a filha e o genro eram clientes do BPN e accionistas, posição que largariam antes de Cavaco avançar para Belém.
O Presidente disse ontem, nos Açores, que não falará mais sobre este assunto (ver texto nesta página).
A ligação de Abdool Vakil, economista e líder da comunidade islâmica, ao actual Presidente é antiga. Foram contemporâneos na faculdade, ambos passaram pelo Banco de Portugal, e o ex-presidente do Banco Efisa foi mandatário de Cavaco nas últimas presidenciais. E foi como presidente do Efisa, vendido por si em 2002 a Oliveira Costa, que passou a integrar a administração do BPN SGPS.
Alargamento ao PS
Mas a intenção de Oliveira Costa, principal arguido do processo BPN, era alargar a sua esfera de influência ao PS. Num email enviado a seu pedido, Vakil sugeriunomes ligados ao PS para integrarem os órgãos sociais do Efisa. José Lamego, Augusto Mateus e Guilherme Oliveira Martins chegaram a assumir funções no conselho superior do Efisa. Mas foram equacionados outros nomes como os de Fernando Castro, ex-chefe de gabinete de Pina Moura, e dos deputados socialistas Vera Jardim, João Cravinho e Alberto Costa.(...)

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Recordar a obra-prima que foi Matrix 10 anos depois

Matrix - why?

Na dimensão matrix, como na realidade portuguesa, há uma fusão visionária entre acção e drama e uma história intrincada cheia de pormenores capazes de dar dimensão psicológica às personagens. É o admirável mundo novo que ali se apresenta, recordando os desenhos animados, as artes marciais mas também a religião, a mitologia, a filosofia misturadas com a ficção científica. Tudo nos empurra para o outro lado do espelho, multiplicando simulacros e alienações neste jogo do gato e do rato, da realidade e da ficção.
Porquê Matrix Reloaded?

Ou mesmo Matrix Revolutions (dos irmãos Wachowski) para descrever o horror que poderá estar à nossa espera, caso a justiça não se faça na nossa sociedade ou a tecnologia seja mal utilizada. Tal como no filme, as imagens e os vírus portugueses têm feito “xeque-mate” à condição humana, abalando os fundamentos da própria existência e civilização. Daí o paralelismo e a ironia contagiante do processo a que estamos sujeitos.
A sequência de acontecimentos de natureza económica, financeira e social que balizam a nossa existência colectiva em Portugal, define um padrão visual grave. Como uma lei matrix, a imagem já não pode ser ameaçada por nenhum vírus porque, em rigor, ela passou a existir como vírus que vive em regime de autofagia, porventura fragmentando-se até ao infinito.
A Justiça portuguesa precisa de um Neo (K. Reeves), que optou por tomar o comprimido vermelho no Matrix, aceitando-se a si como o “escolhido”. Mas essa opção trouxe-lhe uma responsabilidade acrescida: não desapontar Morpheus (L. Fishburne), que acredita que o seu destino é acabar com a guerra contra as máquinas.
Que é como quem diz: a justiça portuguesa deve seguir as dúvidas de Neo e a sua capacidade de proteger Zion, última povoação humana na Terra…

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terça-feira

Importância da semântica na avaliação dos materiais sociopolíticos

A semântica estuda e explora os significados específicos da linguagem. Sendo certo que as palavras desempenham um papel crucial no acto de modelar os nossos pensamentos e de os transportar por determinados canais. A filosofia, a sociologia, a ciência política, o direito, a psicologia, a própria engenharia das comunicações, mais recentemente, deram um contributo notável ao estudo da evolução do significado.

Veremos, sumariamente, como as emoções das populações - como reacção aos discursos dos políticos - sofreram a erosão do tempo, por um lado, e a descrença progressiva das populações, por outro, que resultou do reconhecimento de que as promessas feitas em contexto eleitoral não eram depois realizadas no exercício do poder, além de que nem sempre o escol dirigente oferecia qualidade técnica, humana e ética necessárias para gerir a res publica.

Assim, os slogans e os conceitos-chave deixaram de fazer sentido na arena política, as populações são substancialmente mais ilustradas, muitas delas têm até mais formação do que os próprios agentes políticos, e isso evita que muitas pessoas possam cair em falsas ilusões, seja no plano autárquico, seja ao nível do Governo da nação.

Por outro lado, as populações já interiorizaram a lei sociológica dos retornos decrescentes, ou seja, quanto mais repetidas são certas fórmulas, frases e promessas, menos eficazes elas serão. De resto, nenhum político está hoje em condições de manter a mesma carga fiscal, isenções várias no âmbito do chamado Estado social, etc. As variáveis externas são mais complexas, a incerteza e o risco são maiores.

Em suma, as palavras perderam o seu poder evocativo quando passam de um meio restrito para o uso comum. Quando vemos e ouvimos, para dar um exemplo comezinho e paroquial, cavaco desligado das questões sociais durante um mandato, e à boca das eleições - arma-se em "penetra" de casamentos de gente humilde - para os quais não foi convidado, senão pela gula eleitoral, conseguimos ilustrar eficientemente esta quebra resultante da perda do significado evocativo das palavras, da ética na política, que não é indissociável da própria incapacidade do escol dirigente em resolver problemas, como também da descrença das populações na sua capacidade de resolução.

Mas a toda esta descrença geral que correlaciona as palavras e os conceitos - que organizam o pensamento - aos factos e realidades que se procuram transmitir, não será alheio a circunstância de muitos dos agentes políticos que hoje se apresentam a eleições entre nós, não representarem qualquer significado político, social e cultural.

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