quarta-feira

Diário de Alcestes -por Agostinho da Silva -

Ser Diferente

Resultado de imagem para agostinho da silva
Resultado de imagem para diário de alcestesA única salvação do que é diferente é ser diferente até o fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos. 

Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes' 

_____________________

Etiquetas:

terça-feira

O triunfo da morte - Pieter Brueghel - Uma reflexão de Dezembro -

  • Os aviões continuam a cair matando todos os que neles viajam. Nada se pode fazer;
  • Adolescentes, adultos, mas também crianças e velhos - morrem às centenas - como uma fatalidade;
  • Há coisas que conseguimos evitar, como não entrar num elevador, e depois há coisas que nunca conseguimos evitar, nem prever, como a morte - que nos visita sob as mais variadas vestes, circunstâncias e intensidades. 
Os factos narrados pelos media nos últimos dias comprovam o que afirmamos acima. E esta imagem de Pieter Brueghel - o triunfo da morte - é brutal e reflexiva e convoca-nos para uma outra camada ou densidade de reflexão, desta feita com a ajuda do filósofo (polémico) que foi Martin Heideger (1889-1976).

Imagem relacionada

Para Heideger o homem está especialmente preso ao seu passado, ou seja, o ser do homem é um "ser que caminha para a morte" e a sua relação com os outros, com as coisas e com o mundo concretiza-se a partir de conceitos como angústia, culpa e conhecimento. 

O homem vive obcecado com uma tarefa: dar o "salto" para fora do barco da morte, como se pretendesse fugir à sua condição que o marcou à partida, no nascimento. E tenta fazê-lo para dar um sentido ao ser, para enfrentar mais robustamente a morte. 

Resta-nos, pois, duas coisas: filosofar um pouco, e aguardar. Aguardar muito, aguardar um pouco ou, por vezes, aguardar mesmo nada. 



_____________________

Etiquetas:

Profusão de boletins clínicos do ex-PR

Resultado de imagem para corpo humano


A profusão de boletins clínicos acerca da vida do ex-PR não aproveita a ninguém: aqueles que gostam ou veneram o ex-PR não ficam satisfeitos porque tarda a sua recuperação; aqueles que querem ver o dr. Mário Soares pelas costas - também nunca mais atingem o seu momento zen, pois o fundador do PS teima em agarrar-se à vida.

Neste up & down que tipifica bem a ciclotimia lusa - talvez aquele senhor de nariz curioso que lê diariamente os boletins clínicos do paciente, sob ordem da família, talvez - digo eu - devesse calar-se por uns dias.

Aos vivos e lúcidos resta aguardar a lógica natural das coisas. Aliás, nada mais nos resta senão AGUARDAR.

______________________________



Etiquetas: ,

segunda-feira

Evocação de Franz Kakfa - Que livros devemos ler...

 Resultado de imagem para franz kafka

Foi ou não certeiro Franz Kafka quando disse que devemos ler um certo tipo de livros em prejuízo doutros?!
_______________

Acredito que só deveríamos ler os livros que nos ferem, que nos trespassam. Se o livro que estamos a ler não nos desperta como um soco na cabeça, por que o lemos? Para que nos faça felizes, como escreves? Oh Deus, precisamente: nós seríamos felizes se não tivéssemos livros, e o tipo de livros que nos fazem felizes são o tipo de livros que poderíamos escrever nós mesmos – se assim tivesse de ser. Mas precisamos de livros que nos afectem como um desastre, que nos assolem profundamente, como a morte de alguém que amámos mais do que a nós próprios, como se tivéssemos sido expulsos para uma floresta longe de tudo e todos, como um suicídio. Um livro deve ser como um machado no mar congelado que existe dentro de nós. É nisto que eu acredito. (F. K, Letters to Friends, Family and Editors)

___________________________________


Etiquetas:

Salvação vs esforço de nos salvarmos. Metafísica da tarde

Desconhecemos se a salvação existe, mas existe a vontade de nos salvarmos.

- É um meio caminho numa ponte que não sabemos quando desaba. 

Resultado de imagem para salvação


- Pelas costas dos outros vemos as nossas, especialmente no tempo presente em que se assiste à morte de homens do meio artístico e com idades ainda muito precoces, pois ninguém deveria morrer na casa dos 50´s. 

- Esta constatação, que é básica e enquadra-se no senso comum, ganha alguma espessura quando percebemos o enunciado, ou seja, que não sabemos se nos salvamos, mas que, pelo menos, vamos tentar. 

- Nesse contexto de nos salvarmos - quando Aquiles hesita entre ficar ou partir para a Guerra de Tróia, Tétis, sua mãe, sugere que o filho decida pela partida. Pois partir para a guerra implicaria um acto de coragem e bravura e, ao mesmo tempo, iria inscrever esse acto no domínio da cultura, o qual seria tratado, seguramente, por teólogos, poetas, filósofos, historiadores. 

- Significa isto que aqueles estudiosos jamais poderiam evitar que Aquiles pudesse morrer em teatro de guerra mas, pelo menos, a poesia, a filosofia, a teologia, a história impediriam que o nome de Aquiles se esfumasse na história, e este pequeno texto é a prova provada de que o seu nome foi devidamente conservado. 

- Se regressarmos ao nosso mundinho, ao mundo contemporâneo - neste corsi e ricorsi das idades da história - e olharmos em nosso redor o que vemos ou pensamos daqueles que, a qualquer momento, podem morrer?! 

- O que teria acontecido a Mário Soares se, porventura, ele não tivesse combatido a ditadura do velho "Botas", e os seus mecanismos de censura, castração e de violência operacionalizada pela PIDE?! O que lhe teria sucedido se ele não se tivesse exilado em França, tal como outros que ajudaram nesse combate da ditadura e que tiveram que viver décadas a fio na clandestinidade (Álvaro Cunhal, por ex.)?!

-  Afinal, qual é o desiderato que permite a uns salvarem-se perpetuando o seu nome entre nós, e que depois saltam para o mármore das estátuasque eternizam o tempo; e reconhecer que a história nega esse acesso a outros (?!).

- Assim, uns entram para a história, conservam o seu nome e vivem para sempre. Outros não passam do anonimato. 

- Nunca podemos dizer que A se irá imortalizar por ter escrito um poema; ou que B não passará do anonimato por o não ter escrito. A história é, por regra, mais complexa e reconhece outras variáveis, objectivas e subjectivas - a maior das vezes difíceis de quantificar. 

- O que é facto é que uns morrem tentando, e é o recurso a essa força interior que, em muitos casos, fará a diferença. 

- No fundo, e por mais ou menos exercício mental que façamos no arco do tempo, mais ou menos filosofia e poção metafísica à mistura para compor o ramalhete (que é o medo da morte e encontrar subterfúgios para a negar ou adiar), tudo o que nos resta é apenas esse "poema", essa pequena tentativa para evitar que o mundo nos caia em cima e nos esmague definitivamente. 


______________________

Etiquetas:

Mário Soares e a finitude da vida


Resultado de imagem para mário soares

- Não deixa ninguém indiferente e todos têm opinião sobre um importante fundador do nosso regime democrático que vigora em Portugal desde 1976 (na sequência da revolução dos cravos/74). 

- Assim, há um conjunto (ou categoria) de pessoas que se lhe referem, em função da posição relativa que ocupavam na sociedade - doméstica ou com ressonância nas colónias ou possessões ultramarinas:

1. Os que consideram Mário Soares o "pai" do regime democrático, pois evitou que Portugal guindasse à esquerda revolucionária sob a influência de Moscovo e cujo veículo era o PCP e foi isso que viabilizou a Democracia pluralista entre nós;
2. Os que o consideram um traidor à pátria por ter negociado (com Almeida Santos) a descolonização de forma apressada, leviana e pouco consentida pelos portugueses que asseguravam a administração nas colónias, nos vários graus da administração e que regressaram à metrópole de mãos vazias e sem expectativa de vida;
3. Os que o consideram um aproveitador dos recursos do Estado, quer em negócios pouco claros que envolviam a UNITA e familiares seus, quer, mais recentemente, com apoios do Estado - via Fundação para a Ciência e Tecnologia - para o financiamento à fundação com o seu nome;
4. Depois a discussão ainda se agrava quando os saudosistas do ancien regime (e cultores do velho botas, da PIDE e dos múltiplos mecanismos de censura da ditadura) contrastam com a necessidade absoluta e inegociável de edificar as liberdades cívicas, políticas, económicas, culturais, religiosas, etc.


Creio, todavia, que o seu balanço de vida é profundamente positivo e Portugal beneficiou mais da sua prestação pública do que saiu lesado.

Gostaria de deixar estas simples notas enquanto o combatente anti-fascista, ex-PM (aqui numa fraca prestação ao país) e ex-PR ainda está entre nós, porque após morrermos - em Portugal (cronicamente) - somos todos heróis...
_________________________

Etiquetas:

sábado

O Natal - tempo de risco e esperança

Por regra, tem sido a sociedade de consumo - e as catedrais que a promovem - que empurra os homens para comprar compulsivamente objectos que visam substituir a (aparência de) felicidade. A essa luz, o Natal tem vindo a converter-se num negócio, por vezes mafioso. Nos intervalos desse negócio o homem lá encontra tempo para festejar a reunião com a família ou com outros homens, que, não sendo da família - são mais família do que a própria família (da consanguinidade).
Mas o espírito de Natal é, ou deveria ser, aquele desafio que deposita no homem um renovar da Fé e da Esperança na condição humana que, por sua vez, influencia directa e indirectamente a forma como os povos, as sociedades e as economias são organizados e geridos.
Resultado de imagem para nascimento de jesus

E será essa condição maior que, porventura, estará na raiz do sucesso dumas sociedades e no insucesso doutras; na paz, desenvolvimento e prosperidade duns povos e na instabilidade, guerras e pobreza extremas doutros povos - provocando dois mundos contrastantes, desiguais e pondo frente a frente a riqueza e a pobreza das nações, a paz e a guerra, que começam sempre no coração dos homens.  
O Natal poderá ser aquele tempo especial, aquele momento sagrado capaz de pressionar o homem a tentar erradicar aquela parte má de nós e a sobrelevar a parte boa, e esse é, ou será, porventura, o desafio de sempre: o desafio do homem - que sendo pequeno demais para se comparar a Cristo, nunca deverá deixar de O recordar - lembrando a sua vida e trajectória - e reverenciar aquele que foi Seu Pai.
Fazendo-o ou não morreremos sempre com o mistério da vida e da morte encerrado em nós, mas se algo haverá de transcendente e crermos em algo superior, supra-humano, sempre vamos melhor acompanhados na hora da partida que será, um dia, (também) sinalizado com um destes natais.
Sim, porque não havendo um tempo para nascer também nunca haverá um tempo especial para morrer. E são esses dois tempos contrastantes que marcam o ritmo do nosso tempo e alimentam as nossas ilusões, alegrias, incertezas, riscos e esperanças.
BOM NATAL, PRENÚNCIO DE UM TEMPO NOVO PARA TODOS
____________________________
[...] Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados.
Mas o anjo lhes disse: "Não tenham medo. Estou trazendo boas-novas de grande alegria para vocês, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Isto servirá de sinal para vocês: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura".
De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo:
"Glória a Deus nas alturas,
e paz na terra aos homens
aos quais ele concede
o seu favor".
____________________

Etiquetas:

sexta-feira

Luiz Pacheco - um homem irreverente, excentrico mas de cultura

Gosto de Luís Pacheco, escritor rebelde que chegou a viver na indigência, mas nada lhe retirou valor. Sempre fez o que quis, foi um homem livre, embora condicionado como todos nós. Viveu os efeitos do fascismo, da sua cultura e vigilância, sofreu as chagas duma ditadura opressora, como todas as ditaduras, castradoras para o pensamento e a acção e a convidar ao viver numa intensa clandestinidade. 

Resultado de imagem para luiz pacheco

- Mas Pacheco, como é bem conhecido, sempre denunciou aqueles hipócritas - que povoam a sociedade portuguesa, os que gostam de tudo e de todos, os que pretendem, forçadamente, agradar a gregos e troianos, e querem ser, obsessivamente, amigos dos nossos amigos, num trabalho de pré-esbulho d´alma. 

-Hoje recupero aqui Pacheco, autor de Comunidade (1964, aqui), talvez a sua obra maior, porque ele foi o exemplo vivo de liberdade, e também de alguma excentricidade que só o prejudicou. 

- Mas a forma como este sui generis escritor detectou o plágio que Fernando Namora fez à obra de Vergílio Ferreira (diante um júri cegueta), e documentada num programa de televisão que vi na dobra do milénio, foi algo que me ficou na memória, e serviu para compreender bem o que poderá levar uma pessoa a apropriar-se da produção literária e cultural (ou industrial!!) de outra, ainda que o faça de forma fragmentada, simplista ou, puramente, abjecta - como são todos os pequenos, médios e grandes plágios. 

______________________

[...]

Luiz Pacheco além de tradutor e revisor, desenvolveu desde os anos 40 um impressionante trabalho de crítica literária, em diversos espaços, e em jornais e revistas como O globo, Bloco, Afinidades, o Volante, Diário Ilustrado, Diário Popular ou Seara Nova. Sempre sem medos nem receios, tão polémico e incisivo quanto lhe era possível, mas encontrando sempre neste estilo uma método que não escondia a existência de critério, coerência e seriedade intelectual nas suas observações. Para a História da critica literária portuguesa ficarão muitos dos seus artigos, ainda que destaque pelo seu impacto O caso do sonâmbulo chupista, acusando o plágio de Fernando Namora em Domingo à tarde de Vergílio Ferreira em Aparição. (sendo que o júri de um importante prémio literário nacional da época premiou ambos os trabalhos sem se aperceber do plágio!) link

[...]

*****************************


Etiquetas: ,

quinta-feira

Desencontro - por Jorge de Sena -


Resultado de imagem para jorge de sena poemas

Desencontro

Só quem procura sabe como há dias 
de imensa paz deserta; pelas ruas 
a luz perpassa dividida em duas: 
a luz que pousa nas paredes frias, 
outra que oscila desenhando estrias 
nos corpos ascendentes como luas 
suspensas, vagas, deslizantes, nuas, 
alheias, recortadas e sombrias. 

E nada coexiste. Nenhum gesto 
a um gesto corresponde; olhar nenhum 
perfura a placidez, como de incesto, 

de procurar em vão; em vão desponta 
a solidão sem fim, sem nome algum - 
- que mesmo o que se encontra não se encontra. 

Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum' 
_________________________

Etiquetas: ,

Evoc. de Jorge de Sena - : Natal de 1971 e Ode para o Futuro -


Resultado de imagem para jorge de sena poemas

Ode para o Futuro

Falareis de nós como de um sonho. 
Crepúsculo dourado. Frases calmas. 
Gestos vagarosos. Música suave. 
Pensamento arguto. Subtis sorrisos. 
Paisagens deslizando na distância. 
Éramos livres. Falávamos, sabíamos, 
e amávamos serena e docemente. 

Uma angústia delida, melancólica, 
sobre ela sonhareis. 

E as tempestades, as desordens, gritos, 
violência, escárnio, confusão odienta, 
primaveras morrendo ignoradas 
nas encostas vizinhas, as prisões, 
as mortes, o amor vendido, 
as lágrimas e as lutas, 
o desespero da vida que nos roubam 
- apenas uma angústia melancólica, 
sobre a qual sonhareis a idade de oiro. 

E, em segredo, saudosos, enlevados, 
falareis de nós - de nós! - como de um sonho. 

Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal' 
___________________________________

Etiquetas:

Jorge de Sena e Eugénio de Andrade - Correspondência 1949-1978 - org. Mécia de Sena -

Guerra & Paz com «Correspondência 1946-1978, Jorge de Sena e Eugénio de Andrade»

«Correspondência 1946-1978, Jorge de Sena e Eugénio de Andrade», com organização de Mécia de Sena, é a nova proposta da Guerra & Paz. (link)

«Este livro reúne a correspondência que, de 1949 a 1978, Jorge de Sena e Eugénio de Andrade trocaram um com o outro. São as cartas em que dois grandes poetas – tão diferentes nos seus temas e na essencialidade da sua obra –, de uma forma franca e sem subterfúgios, falam da literatura, que era o centro das suas vidas. Mas estas cartas são também testemunho de uma límpida e surpreendente amizade, porta aberta à partilha das dificuldades da vida, dificuldades familiares ou profissionais. São cartas emotivas, retrato da vida social e política portuguesa, e nelas vemos, década a década, o rosto de Portugal, o rosto da literatura, o rosto da vida, mudar, ruga a ruga, letra a letra.»

________________________

  • Notas: Talvez seja uma excelente prenda de Natal. Ficamos a saber o que Jorge de Sena pensava de Miguel Torga (e doutros escritores) e de questões socio-culturais que modelavam então o Portugal rural dos anos 50, 60 e 70. Não é pela pena dos economistas, dos juristas ou dos políticos que guardamos o retrato mais eficiente do país, é, antes, pelas questões e controvérsias que muitos desses homens de cultura, como Jorge Sena e Eugénio de Andrade - souberam levantar, problematizar, desenvolver e discutir. Sobretudo num registo mais íntimo e emotivo como parece ser esta correspondência que agora é dada à estampa. 
___________________________

Etiquetas:

Recupero Vergílio Ferreira - o início do começo -

Nota prévia: Talvez o mais irónico da vida é que nascemos frágeis, depois ficamos vigorosos para, logo depois, entrar no longo período de decadência até à multifalência dos órgãos, prenúncio do fim de tudo. Daqui decorre a história do burro cobridor que era desafiado por burras jovens; o problema era quando lhe tiravam a burra nova e lhe colavam a burra velha... Esta metáfora (ou analogia) com a vida do homem pode representar o princípio do interruptor que é a vida humana: umas vezes on, outras tantas of


“No limiar da velhice, como é que se finge de vivo? Porque é preciso para estar. Vinte volumes, tenho-os aqui encadernados para a glória da família, falei da vida e da morte, e do amor da cinta para cima e para baixo, e dos deuses, e da política quando mais jovem para aquecer – que é que disso está aqui comigo? Que é que está connosco quando estamos só nós?” (Vergílio Ferreira, Rápida, a Sombra)
Resultado de imagem para esplanada sobre o mar“Um livro ainda, reinventar a necessidade de estar vivo. Mundo da pacificação e do encantamento – visitá-lo ainda – mundo do êxtase deslumbrado. Da minha comoção subtil e íntima, vidrada de ternura até às lágrimas. Da pálida alegria oculta como uma doença. Do frémito misterioso da transcendência visível. Da fímbria de névoa como auréola que diviniza o real. Do reencontro com o impossível de mim. Da quietude submersa. Do silêncio. Um livro ainda – um livro? Frémito do êxtase, a ternura subtil, fímbria, limite, pálida alegria – uqão longe tudo já, ó espaço da maravilha.” (Vergílio Ferreira, Rápida, a Sombra)

Mas no instante de ver-te. A minha ideia é esta: temos a idade do nosso olhar. Não dos olhos, eu disse do olhar.[...]

Etiquetas: , , ,

terça-feira

Cristo de São João da Cruz - por Salvador Dalí -


Parabéns, Anália
(um Cristo sem pregos e sem coroa de espinhos
só poderia ser para ti)


Resultado de imagem para cristo, salvador dali
Cristo de São João da Cruz. Autor, Salvador Dalí


(...) A pintura representa Jesus Cristo na cruz flutuando num céu escuro sobre um lago com um barco e pescadores, que alguns críticos apontam como sendo uma reprodução de Porto Ligat (CadaquésEspanha), onde o pintor tinha a sua casa.[1] Embora seja uma representação da crucificação, é desprovido de pregos, sangue e da coroa de espinhos, porque, de acordo com Dalí, segundo um sonho que teve, essas características não fariam a sua ideia de Cristo. A importância de representar Cristo num ângulo extremo também lhe foi revelada num sonho. (...)

*********************************
****************
*


Etiquetas:

Gustav Klimt - hino à alegria -



Resultado de imagem para gustav klimt
Hino à Alegria", pormenor do Friso de Beethoven de Gustav Klimt, 1902

**************************
*************
*

Etiquetas:

segunda-feira

Evocação de Gustav Flaubert - (N. 12 Dez. 1821 - F. 8 Maio 1880)

Nota prévia: Três reflexões de Flaubert, especialmente hoje no dia de seu nascimento. O seu "amor" a Madame Bovary não deixa margem para dúvidas... 

Resultado de imagem para flaubert
Acerca do dinheiro, da morte e da eternidade...
____________

- O que o dinheiro faz por nós não compensa o que fazemos por ele.

- Talvez a morte tenha mais segredos para nos revelar que a vida.

- Eu estou a morrer, mas aquela puta da Madame Bovary viverá para sempre.

___________________

Etiquetas:

Treze leis vitais - por Theófilo de Amarante -

Imagem picada no rizoma
Resultado de imagem para poesia


Treze leis vitais
Transformar a doença em romaria
E o grito em música romântica
Pintar o vento de verde
E as calamidades em protestos d’amor
Fazer de deus, o secretário-geral da humanidade
E dos anjos, agricultores do céu
Transformar a verdade em pura justiça
E a mentira na sua advogada
Amamentar a fome com sorrisos gastronómicos
Obrigar os ricos a usar a boca dos pobres
Fazer política à volta da fogueira
E trabalhar durante o sono
Matar a morte com a carícia da vida
Theófilo de Amarante

Poema picado aqui

**********
***
*

Etiquetas: , ,

domingo

Direitos e reconhecimentos de direitos

Enquanto houver a necessidade de sinalizar este Dia - para lembrarmos a todos que diariamente os direitos humanos básicos são violados, um pouco por todo o mundo, é como querermos consagrar o direito ao O2, ter acesso à água potável e ter liberdade de movimentos. 

Reconhecer tudo isso é admitir que, afinal, ainda não saímos do estádio da barbárie e caminhamos em direcção a algo ainda pré-histórico. Nesta fase, seria suposto estarmos a discutir ou a reconhecer outro tipo de direitos e/ou condições de vida, garantidos que foram os direitos básicos à sobrevivência. 

Resultado de imagem para direitos humanos

************************
***********
*

Etiquetas:

sexta-feira

Imagens da conjuntura que espelham a corrupção que graça entre nós


Resultado de imagem para pintura sobre corrupto e corrupção

Resultado de imagem para corrupto e corrupção em Portugal

Resultado de imagem para corrupto e corrupção em Portugal

*****************
********
*

Etiquetas:

Dia Internacional Contra a Corrupção

Resultado de imagem para dia contra a corrupçãoNota prévia: Se pensarmos na justiça económica, financeira e social em Portugal temos logo uma fotografia do que é ou representa a corrupção em Portugal. Quantos banqueiros foram presos em Portugal? E quantos maçons, muitos deles envolvidos em actos de corrupção (activa e passiva), já foram julgados e condenados? A percepção em Portugal é que com dinheiro e advogados habilidosos ninguém é detido e a corrupção compensa. As instituições judiciárias queixam-se de falta de recursos humanos e informáticos para desenvolver esse combate na sociedade. Uma coisa é certa, em Portugal anda estamos na pré-história desse combate, pelo que a corrupção lavra entre os meios político, económico e financeiro - levando benefícios a todos os players e, mais grave, o país depara-se com ordenados escandalosos na administração da CGD - e é o próprio PM que se queixa de que esse valores foram fixados pela lei - e nada se faz para alterar uma lei iníqua que deveria ter sido alterada em sede legislativa. Afinal, os deputados da maioria têm aquilo que se chama "iniciativa legislativa" para alterar e propôr novos projectos de lei, mas se não o fazem é por algum motivo. Eis uma boa questão para o chefe da geringonça num dia que seria suposto ser mais de acção e menos de fachada. 

______________


O Dia Internacional Contra a Corrupção observa-se a 9 de dezembro.
A data foi instituída pela ONU com a assinatura da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, a 9 de novembro de 2003. A Convenção entrou em vigor em 2005.
O objetivo da data é consciencializar sobre a corrupção a nível mundial e enaltecer o papel da ONU no combate à corrupção. Neste dia incentiva-se à denúncia de corrupção, à divulgação da data nas redes sociais, à criação de ações e de eventos de combate à corrupção e à doação de fundos a favor dos mais desprotegidos.
Portugal surge na 14ª posição dos países mais corruptos da União Europeia. A nível mundial, Portugal é o 28º país menos corrupto do mundo (dados de 2015), segundo a Agência de Transparência Mundial que analisa a corrupção anualmente em 170 países do globo.
Os países nórdicos são considerados os menos corruptos do mundo (1º Dinamarca, 2º Finlândia e 3º Suécia).
________________

Etiquetas: